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sábado, 6 de junho de 2015

Vem aí o amola-tesouras

O inconfundível sinal sonoro de grave a agudo e vice-versa, produzido pela característica flauta de pan do “amola-tesouras” faz-me entrar na imaginária máquina do tempo e transporta-me algumas dezenas de anos para trás.

Lembro-me de quando era menino ele aparecer lá pelas ruas do meu velho bairro de Troino, precedido pelo seu sinal sonoro e, para os rapazes não era lá muito bom augúrio. Costumávamos nós dizer: “lá vem chuva!...”

Provavelmente este habilidoso profissional, só teria mais trabalho no Outono, é que para além de afiar facas e tesouras também consertava os chapéu-de-chuva, num tempo em que tudo se poupava e não se falava sequer em coisas descartáveis.

Ontem esteve um dia de muito calor e hoje não se ficou por menos, no entanto ele, o amola-tesouras, não aquele que o meu amigo João tão bem retratou em verso e que ambos tivemos oportunidade de ver ao vivo e a cores, mas aquele outro que leva a pedra de esmeril para afiar na parte traseira de uma bicicleta, voltou a passar sob a minha janela.

O som que a flauta daquele artesão emite desde tempos imemoriais faz-me despertar sentimentos e memórias que estavam lá bem no fundo de uma das muitas caixinhas que tal como muitos outros tão bem guardamos e que o poeta setubalense João Faleiro Paixão tão bem retratou nestes belos versos:
Guarda-pó, de cotim coçado
Velha boina que inclinava
E a gaita que bem tocava
Mal o Outono era entrado
Corria a cidade inteirinha
Tesouras, facas para amolar
Pôr um “pingo” num alguidar
Uma vareta numa sombrinha
Quem não sorri, ao lembrar
A sua máquina engenhosa
Sua perna a “dar a dar”
E a arte bem trabalhosa
De conseguir pôr a cortar
A tesoura mais defeituosa
Rui Canas Gaspar
2015-junho-06

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