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terça-feira, 22 de setembro de 2015

António Vitorino um resistente comerciante da baixa de Setúbal

Naqueles anos sessenta do passado século XX ainda podíamos encontrar em casas de rés-do-chão  nas ruas da baixa de Setúbal, excelentes artífices exercendo a arte de sapateiro que remendavam o nosso calçado e regra geral colocavam as tradicionais meias solas ou os pregos de aço nas botas de cabedal cru, as conhecidas e temidas cardas.

Lembro-me bem de alguns desses artistas, nomeadamente do “Zé Coxo” trabalhando junto à porta,  ali para os lados de Troino, e do Sarrico na Rua  de S. Sebastião, frente à Rua de João Galo, a tal que normalmente tinha polícia por perto e onde os moços não podiam entrar.

Para abastecer os muitos sapateiros haviam os fornecedores de cabedais, fivelas, atacadores, colas, pomadas e tudo o que demais se relacionasse com esta antiga arte, estou a lembrar-me por exemplo do “Maximino das solas”.

Eram tempos diferentes, tal como a cidade os hábitos e os costumes também o eram. Os sapateiros encontram-se hoje em vias de extinção e consequentemente as casas que os abasteciam irão pelo mesmo caminho. Irão ou foram, porque dou notícia de apenas haver uma em Setúbal, ali bem perto da Praça do Bocage, a conhecida “casa das solas e cabedais” e que nunca chegou a ter nome de batismo.

António Vitorino ainda era rapaz quando para ali foi trabalhar e agora com 78 anos, boa disposição, excelente conversador e ar simpático ainda por lá se mantem depois de 65 anos atrás do balcão a atender os setubalenses que hoje em grande número ainda o procuram.

O seu patrão, o Adelino, também morreu já lá vão 13 anos e o António, que se julga ser o mais antigo comerciante da baixa, ainda em atividade, vaticina que quando for desta para melhor a casa certamente fechará e acabar-se-á este tipo de comércio em Setúbal.

Hoje, 22 de setembro de 2015 tive o grato prazer de conversar um pouco com o António e recordar algumas lojas do nosso comércio local, nomeadamente as sapatarias que exibiam os mais modernos modelos e que têm vindo a fechar, como foi o caso das emblemáticas Sapataria 53 e mais recentemente a Jopibar.

E assim se vai encerrando mais um capítulo da história das antigas casas comerciais setubalenses, restando-nos a sua memória e alguma coisa que vai ficando registada.

Rui Canas Gaspar
2015-setembro-22

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