António Vitorino um
resistente comerciante da baixa de Setúbal
Naqueles
anos sessenta do passado século XX ainda podíamos encontrar em casas de rés-do-chão
nas ruas da baixa de Setúbal, excelentes
artífices exercendo a arte de sapateiro que remendavam o nosso calçado e regra
geral colocavam as tradicionais meias solas ou os pregos de aço nas botas de
cabedal cru, as conhecidas e temidas cardas.
Lembro-me
bem de alguns desses artistas, nomeadamente do “Zé Coxo” trabalhando junto à
porta, ali para os lados de Troino, e do
Sarrico na Rua de S. Sebastião, frente à
Rua de João Galo, a tal que normalmente tinha polícia por perto e onde os moços
não podiam entrar.
Para
abastecer os muitos sapateiros haviam os fornecedores de cabedais, fivelas,
atacadores, colas, pomadas e tudo o que demais se relacionasse com esta antiga
arte, estou a lembrar-me por exemplo do “Maximino das solas”.
Eram
tempos diferentes, tal como a cidade os hábitos e os costumes também o eram. Os
sapateiros encontram-se hoje em vias de extinção e consequentemente as casas
que os abasteciam irão pelo mesmo caminho. Irão ou foram, porque dou notícia de
apenas haver uma em Setúbal, ali bem perto da Praça do Bocage, a conhecida “casa
das solas e cabedais” e que nunca chegou a ter nome de batismo.
António
Vitorino ainda era rapaz quando para ali foi trabalhar e agora com 78 anos, boa
disposição, excelente conversador e ar simpático ainda por lá se mantem depois
de 65 anos atrás do balcão a atender os setubalenses que hoje em grande número
ainda o procuram.
O
seu patrão, o Adelino, também morreu já lá vão 13 anos e o António, que se
julga ser o mais antigo comerciante da baixa, ainda em atividade, vaticina que
quando for desta para melhor a casa certamente fechará e acabar-se-á este tipo
de comércio em Setúbal.
Hoje,
22 de setembro de 2015 tive o grato prazer de conversar um pouco com o António e
recordar algumas lojas do nosso comércio local, nomeadamente as sapatarias que
exibiam os mais modernos modelos e que têm vindo a fechar, como foi o caso das
emblemáticas Sapataria 53 e mais recentemente a Jopibar.
E
assim se vai encerrando mais um capítulo da história das antigas casas
comerciais setubalenses, restando-nos a sua memória e alguma coisa que vai
ficando registada.
Rui
Canas Gaspar
2015-setembro-22
www.troineiro.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário