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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O Visconde d’Outeiro

O Café Esperança ocupava a parte de baixo do hotel com o mesmo nome e era um espaço muito agradável e bem frequentado pelos setubalenses.

Era ali que o jovem Rogério Severino, um rapaz que deveria naquele tempo ter uns 18 anos, se sentava num dos cantos e tomava o seu café, enquanto escrevia as suas habituais crónicas para o jornal O Setubalense.

Naquele tempo, ele tinha escrito um pequeno roteiro sobre o museu da cidade e imprimira-o em stencil na copiadora da Junta Autónoma do Porto de Setúbal, o seu local de trabalho, tendo distribuído depois pelos amigos esta pequena brochura.

O trabalho era assinado por um tal Visconde d’Outeiro, personagem até então desconhecida dos setubalenses.

E porque naqueles tempos ainda não existia o vulgar telemóvel, o elegante espaço dispunha de uma cabine telefónica e, uma simpática funcionária, através da instalação sonora chamava os clientes quando para eles alguém telefonava.

De vez em quando, no amplo espaço, ouvia-se chamar à cabine telefónica o Senhor Visconde d’ Outeiro e logo toda a gente, discreta ou indiscretamente tratava de levantar a cabeça para conhecer tão distinta e importante figura.

Mas, o facto é que nunca ninguém conseguiu ver o cavalheiro, porque quando o mesmo era chamado à cabine telefónica já certamente teria saído do estabelecimento.

O Rogério tinha nascido e residia em Setúbal, no bairro de Troino, mais concretamente na Rua do Outeiro da Saúde e decidiu usar, por brincadeira, o pseudónimo de Visconde d’Outeiro.

Por vezes era ele mesmo que numa cabine pública chamava pelo Visconde, outras era eu que o fazia, numa inofensiva brincadeira própria de gente nova e sempre disponível para a diversão.

Muita gente certamente se interrogou durante bastante tempo, lá pelas bandas do Café Esperança, quem seria o misterioso Visconde d’Outeiro, quando afinal o distinto nobre se encontrava a seu lado, só ou com um  amigo a tomar a bica e a divertir-se à custa da curiosidade dos seus conterrâneos.

Rui Canas Gaspar
2015-setembro-24

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