É tempo de honrar os heróis
setubalenses
Foi
no dia 9 de abril de 1918 que ocorreu o maior desastre militar da história de
Portugal, depois de Alcácer-Quibir, quando o Exército Português sofreu uma
pesada derrota frente às forças alemãs, na batalha de Lys, em terras da
Flandres.
Do
Corpo Expedicionário Português enviado para aquela que ficou conhecida como
Primeira Guerra Mundial por lá ficaram cerca de 10.000 soldados e muitos outros
milhares regressaram à sua terra natal com as mais diversas mazelas.
Em
Setúbal, erigiu-se um monumento memorial a esses mortos, passados que foram
pouco mais de uma dúzia de anos sobre a data do Armistício.
Tal
monumento que deveria ter sido erigido a expensas do país que enviou estes milhares
de jovens para a guerra, só foi possível graças a subscrição pública das gentes
do Sado, pese embora os fracos ganhos auferidos na época da subscrição.
No
dia 22 de Dezembro de 1931, com pompa e circunstância era inaugurado o singelo
memorial setubalense, segundo projeto de Bonfilho Faria e cuja iniciativa tinha
cabido à delegação de Setúbal da Liga dos Combatentes.
Vários
anos volvidos e de novo o Exército Português se confronta com três frentes de
combate, desta vez em África, uma guerra contra os movimentos independentistas
de Angola, Moçambique e Guiné.
E
foi precisamente para este último território que eu, então jovem militar,
incorporado obrigatoriamente no Exército fui mandado, tal como muitos milhares
de setubalenses.
Muitos
destes rapazes não regressariam vivos e, mesmo depois de mortos aqueles que lhe
enviaram exigiam à família que custeasse o retorno do corpo, ou então por lá
ficaria. Situação ignóbil!
Passadas
várias décadas sobre o términus do conflito onde está a homenagem devida aos
combatentes do Ultramar?
Onde está o memorial setubalense aos seus jovens para
lá enviados e que não retornaram com vida?
Nem
sequer uma artéria da cidade faz alusão a esses jovens enviados para a guerra! Existe
sim em Setúbal a Rua Amílcar Cabral, o chefe guerrilheiro do P.A.I.G.C. que se
opunha a António de Spínola, o comandante supremo das Forças Armadas Portuguesas
na Guiné.
Que
terra é esta que honra os adversários e esquece os seus filhos enviados para combater
nas distantes terras africanas?
Será
que não é já tempo dos antigos combatentes da Guerra do Ultramar, mortos ou
vivos, serem lembrados em Setúbal?
Pessoalmente
considero esta lacuna como mais uma derrota não das nossas Forças Armadas mas
da nossa classe política, que pela sua ação, mais parece estar ao lado do
adversário do que do seu próprio povo.
Rui
Canas Gaspar
2016-abril-05
www.troineiro.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário