Troia e os nossos
sorridentes políticos
Enquanto
pesquisava imagens no meu vasto arquivo fotográfico com a finalidade de ilustrar o próximo livro que
estou a concluir sobre Troia, encontrei esta foto que captei pelas 16.00 horas
do dia 8 de setembro de 2005, já lá vão 11 anos.
Naquela
tarde de verão o trânsito automóvel estava complicado na cidade de Setúbal. Eram
muitos os automobilistas que queriam chegar à beira-mar a tempo de assistir, em
direto, à implosão das torres de Troia “verde-mar” e T04” enquanto eu me dirigi
para um ponto alto no Bairro dos Pescadores.
Sorri
ao olhar para a imagem que então captei da implosão numa altura em que os
cartazes espalhados pela cidade anunciavam os candidatos à autarquia sadina.
Nesta
imagem ilustrativa do texto podemos ver, como que a olhar para mim, sorridente,
Fernando Negrão, o candidato do PSD à Câmara Municipal de Setúbal que pouco depois
de perder as eleições se mudaria para a capital.
No
outro lado do rio, o então primeiro-ministro socialista, José Sócrates, sorridente,
premia o comando que faria cair duas das seis torres erigidas naquela península
de finas areias brancas.
Os
comunistas, presidentes das câmaras de Setúbal e de Grândola assistiam ao
evento conjuntamente com os convidados dos empresários do grupo Sonae e, ainda
a poeira não se tinha dissipado aplaudiam de rasgado sorriso o sucesso da
operação.
Era
o início de uma nova Troia que deixara de “ser do povo”, tinha ultrapassado o “admirável
mundo novo” publicitado pela TORRALTA que preconizava a construção de uma
cidade turística e que a partir daquele histórico momento passaria a ser um
espaço que privilegiaria a qualidade em detrimento da quantidade, segundo
versão dos seus promotores.
Onze
anos passaram e Troia, goste-se ou não, nada tem a ver com o que eu conheci nos
meus tempos de juventude, pouco tem em comum com o projeto da TORRALTA que
ajudei a concretizar e que agora se apresenta ao mundo como um espaço de
eleição.
Uma
coisa parece no entanto haver em comum, os sorrisos dos nossos políticos dos
mais diversos quadrantes, irmanados provavelmente pelo agradável ar que se
respira naquela restinga que os romanos designaram por Ácala e que para nós é a
adorável Troia.
Rui
Canas Gaspar
2016-outubro-03
www.troineiro.blogspot.com
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