Saudades de uma menina
setubalense
A
senhora caminhava lentamente pela rua, olhando tudo o que a rodeava, parando de
vez em quando para assim melhor apreciar um ou outro pormenor.
Esta
setubalense nascera ali na “azinhaga do Quileu” e por aqueles terrenos por
asfaltar brincou, saltou, correu e subiu vezes sem conta ao moinho do D.
António para dali ver chegar os barcos dos varinos.
Se
o barco do seu avô, o “Quileu”, viesse com gaivotas esvoaçando na popa, era
sinal de alegria, vinha aí peixe fresco!…
Ao
longo dos anos a antiga azinhaga transformou-se em rua, tal como a menina se
transformou em mulher, velhas casas foram sendo recuperadas porém,
curiosamente, ainda ali está viva e de boa saúde a taberna do “Quileu”.
A
senhora fez questão de visitar a “cova do Quileu” local de residência do seu
avô e onde tantas vezes brincou. Naquele espaço que ela tão bem conhecia no
lugar de um estreito e íngreme caminho, existe hoje uma ampla escadaria e ao
invés das velhas casas abarracadas das suas memórias de há meio século temos hoje
pequenas e agradáveis moradias.
Era
emoção a mais!... A voz embargou-se os olhos encheram-se de lágrimas e as
saudades da sua meninice, fizeram-na rapidamente dar meia volta e retornar para
junto de seu marido que a aguardava a confortável distância.
Mais
uma setubalense que partiu da sua terra natal para longe do belo rio azul e que
agora ao regressar às suas raízes se surpreende com o que vê meio século
passado, um curto período de tempo mas o suficiente para termos mudado não só
em Setúbal em particular mas o país em geral que passou de cores a preto e
branco para multicolor, ainda que algumas dessas cores estejam ainda um pouco
desbotadas.
Rui
Canas Gaspar
2019-agosto-03
Troineiro.blogspot.com
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