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quarta-feira, 27 de julho de 2022

 

Para quando um monumento aos antigos combatentes das guerras coloniais erigido em Setúbal?


Pouco passava das oito da manhã quando o telefone tocou e do outro lado a inconfundível voz do meu velho amigo Ricardo Seromenho logo perguntou:

- É pá, tás bom? Sabes que dia é hoje?

- Quarta-feira, dia 27 de julho, respondi

- Faz hoje 52 que morreu o Salazar – Diz-me o Ricardo.

- Queres tu dizer que faz hoje 52 anos que partimos para a Guiné para a Guerra Colonial.

O Ricardo é melhor que os avisos do Facebook e faz questão de me telefonar para recordar datas marcantes da nossa vida rica em aventuras ocorridas na nossa juventude.

De facto nesta data este setubalense  embarcou com centenas de outros jovens e a bordo do navio Bragança rumo a Bissau, enquanto eu, no mesmo dia seguia o mesmo trajeto a bordo do navio de carga “Ana Mafalda” com mais um pequeno punhado de militares destacados para rendição individual de outros camaradas.

Com a morte do ditador ainda alimentamos esperança de que os barcos não seguissem para aquele território africano, porém nem isso obstou a que fosse cumprida a missão que nos destinaram e que levou a que muitos jovens por lá ficassem mortos ou de lá viessem com sequelas mais ou menos graves no corpo e na alma.

Passado mais de meio século ainda por cá andam muitos desses jovens a quem o governo de então obrigou a ir combater para terras distantes sem que volvido todo este tempo pouco ou nada a Nação tenha reconhecido o seu esforço e sacrifício.

Erigir um monumento aos setubalenses que foram obrigados a ir combater para terras de África, num local de destaque do concelho, seria o mínimo que se poderia fazer para honrar a memória daqueles que foram obrigados a deixar namoradas, esposas e mães, sendo que alguns destes nossos conterrâneos não voltaram de lá com vida.

Rui Canas Gaspar

Troineiro.blogspot.com

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