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sábado, 29 de outubro de 2022

 Setúbal na História ou histórias de Setúbal ( 244)

Conhecendo um pouco do impulsionador do Convento de Brancanes
O Verão começara há apenas quatro dias e, naquele 25 de junho de 1631 uma senhora de origem irlandesa, esposa de fidalgo e juiz português, transpirava profusamente na sua confortável casa da Vidigueira. Poucos minutos depois, ela estaria a dar à luz uma criança do sexo masculino.
Para que a criança fosse conhecida e diferenciada entre as demais foi-lhe colocado o nome de António da Fonseca Soares. Ela cresceu naquela terra de gente do campo sendo alvo de todos os cuidados próprios da sua condição social.
O rapaz desenvolveu-se, correndo livremente pelos campos e brincando naquela terra alentejana até que um dia seria enviado para a grande cidade a fim de estudar em Évora, no Colégio dos Jesuítas.
Os estudos seriam abruptamente interrompidos, quando António com apenas 18 anos tomou conhecimento do falecimento do pai, tendo então regressado à sua Vidigueira natal.
Não ficou por muito tempo! O país estava em plena Guerra da Restauração, opondo o reino de Portugal à vizinha Espanha e o jovem logo tratou de se alistar no Exército Português onde uma carreira promissora o esperava, não fossem os seus excessos, fruto de um temperamento impetuoso.
O despertar dos sentidos para as questões amorosas e para a poesia levaram-no a envolver-se nas mais diversas discussões e aventuras. Uma dessas acabou por correr mal obrigando-o em 1653 a fugir para o Brasil, quando tinha apenas 22 anos de idade. Ele ferira de morte, em duelo, um adversário.
Depois de ter passado três anos na Baía, o jovem alentejano regressou a Portugal e, embora sem ter alterado o seu modo de vida a leitura de um texto de Frei Luís de Granada despertou-lhe o interesse para os assuntos da fé e de Deus.
Já em terras lusas, quando corria o ano de 1656 António volta de novo a participar naquela interminável guerra que durou 28 anos (1640 a 1668). E, porque se tratava de um jovem de reconhecida coragem e valor, foi em Setúbal que viria a ser promovido à patente de capitão.
Mas, contava ele 31 anos de idade quando em maio de 1662, decide dar uma volta completa à sua vida repleta de aventuras e experiências. Abandonou a carreira militar para se dedicar à vida religiosa, ingressando na Ordem de São Francisco, em Évora.
A partir desse momento o então conceituado capitão António da Fonseca Soares despe o garboso uniforme militar e passa a envergar o hábito simples de frade franciscano, passando a assumir a identidade de Frei António das Chagas, ou Padre António da Fonseca, nomes porque ficaria conhecido entre o povo.
E foi precisamente graças às diligências de Frei António das Chagas, contando com o alto patrocínio do rei D. Pedro II, que no dia 27 de junho de 1682, em Brancanes, a noroeste de Setúbal, a meia encosta de uma pequena colina desta vila de pescadores e salineiros que seria lançada a primeira pedra para a construção do edifício do Seminário para Missionários Apostólicos de Nossa Senhora dos Anjos.
Rui Canas Gaspar

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