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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A Escola da Coelha

Ao falar hoje com o meu velho amigo Mário, nascido no longínquo ano de 1928, fiquei a saber que afinal não teria havido uma “Escola da Coelha” em Setúbal, no Bairro de Troino, mas sim duas, sendo a outra nas Fontainhas.

Na escola das Fontainhas lecionou a “Coelha” mãe, enquanto em frente à casa onde segundo a tradição teria nascido Luísa Todi foi o local onde muitos rapazes foram ensinados pela “Coelha” filha.

Ambas as professoras tinham fama de serem muito exigentes e de usarem e abusarem das palmatoadas, para além de outros “pedagógicos” castigos como aquele de colocar o rapaz que não soubesse algo à janela com umas “orelhas de burro” enfiadas na cabeça.

Mas mais espantado fiquei quando o meu amigo me confidenciou que seu pai tinha oferecido à professora (coelha mãe) uma saca de batatas para “puxar pelo filho”.

E foi de tal maneira que ela puxou que o Mário depois de levar reguadas q.b. acabaria não só por fazer a 3ª e a 4ª classe, como aos 11 anos de idade estava a fazer a admissão ao Liceu.

Dizia o Mário que era comum os rapazes quando saíam da alçada da exigente professora por vezes arremessarem pedras contra a sua porta. Situação que a entristecia e se lamentava exclamando: “depois de tudo o que uma pessoa faz por eles…”

De facto, se hoje é difícil ser professor, naqueles tempos não o era menos. Estes profissionais nunca tiveram a vida facilitada, fosse no ensino particular ou no oficial.

Os tempos são outros e por isso não deixa de ser curioso ficarmos a saber que um pai querendo o melhor para o seu filho fosse oferecer uma saca de batatas à professora para “puxar por ele” sabendo-se naqueles tempos o significado de “puxar”.

Coisas de Setúbal para conhecermos ou recordarmos.

Rui Canas Gaspar

2014-fevereiro-27

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