A Escola da Coelha
Ao falar hoje com o meu velho
amigo Mário, nascido no longínquo ano de 1928, fiquei a saber que afinal não
teria havido uma “Escola da Coelha” em Setúbal, no Bairro de Troino, mas sim
duas, sendo a outra nas Fontainhas.
Na escola das Fontainhas lecionou
a “Coelha” mãe, enquanto em frente à casa onde segundo a tradição teria nascido
Luísa Todi foi o local onde muitos rapazes foram ensinados pela “Coelha” filha.
Ambas as professoras tinham fama
de serem muito exigentes e de usarem e abusarem das palmatoadas, para além de
outros “pedagógicos” castigos como aquele de colocar o rapaz que não soubesse
algo à janela com umas “orelhas de burro” enfiadas na cabeça.
Mas mais espantado fiquei quando
o meu amigo me confidenciou que seu pai tinha oferecido à professora (coelha
mãe) uma saca de batatas para “puxar pelo filho”.
E foi de tal maneira que ela
puxou que o Mário depois de levar reguadas q.b. acabaria não só por fazer a 3ª
e a 4ª classe, como aos 11 anos de idade estava a fazer a admissão ao Liceu.
Dizia o Mário que era comum os
rapazes quando saíam da alçada da exigente professora por vezes arremessarem
pedras contra a sua porta. Situação que a entristecia e se lamentava
exclamando: “depois de tudo o que uma pessoa faz por eles…”
De facto, se hoje é difícil ser
professor, naqueles tempos não o era menos. Estes profissionais nunca tiveram a
vida facilitada, fosse no ensino particular ou no oficial.
Os tempos são outros e por isso
não deixa de ser curioso ficarmos a saber que um pai querendo o melhor para o
seu filho fosse oferecer uma saca de batatas à professora para “puxar por ele”
sabendo-se naqueles tempos o significado de “puxar”.
Coisas de Setúbal para conhecermos
ou recordarmos.
Rui Canas Gaspar
2014-fevereiro-27
Sem comentários:
Enviar um comentário