Feira Quinhentista em Setúbal um espetáculo
completo onde até nem o bêbado faltou
O
final da tarde estava agradável. Na baixa de Setúbal começava a verificar-se
um desusado movimento de pessoas que calma e descontraidamente caminhavam
conversando e de vez em quando paravam para ver algumas montras das casas
comerciais que se encontravam abertas na Rua Dr. Paula Borba, aquela que entre
os antigos setubalenses é conhecida por Rua dos Ourives.
Mas,
o principal motivo deste desusado movimento, naquela que em tempos já foi a
mais movimentada artéria da cidade, era a Feira Quinhentista que aqui tinha
lugar, com os seus pavilhões instalados no Largo da Misericórdia e na Ribeira
Velha e com os seus vendedores trajados como se estivessem na época de
quinhentos.
Uma
dupla de músicos tocando gaita-de-foles e tambor deslocava-se animando o espaço
entre os dois largos, alegrando quem passava, enquanto outra dupla de homens de
armas, empunhando as suas espadas de vez em quando faziam uma demonstração da
sua arte de bem combater.
Se
no largo da Misericórdia uma das tendas servia o Keback, aquela deliciosa
comida típica de alguns países árabes e uma outra chamava a particular atenção
dos visitantes pelo agradável cheiro de dali provinha devido à variedade de
frutos secos e pastas de figo, de nozes ou de tâmaras. Porém, por aquelas bandas
nada se encontrava para comer que fosse dos nossos latinos gostos.
Já
no Largo da Misericórdia o agradável e típico stand montado pela dinâmica APPACDM , associação que apoia as
crianças com problemas de saúde mental, servia alguns doces e petiscos, embora
o pequeno espaço já se encontrasse repleto de clientes.
Mas,
ali naquele largo estava a funcionar um único lugar onde se poderia petiscar,
um tipo de tapas como é típico em Espanha e que por cá começa a ser também
procurado e foi lá que me sentei e esperei não sei quanto tempo até que fosse
atendido pela atarefada senhora que não tinha mãos a medir.
E
foi nesse espaço de tempo, mais de 15 minutos, que se encostou à proteção da
esplanada um homem, “perdido de bêbado” que não parava de incomodar quem
calmamente queria estar sossegado a apreciar outro tipo espetáculo que não
aquele degradante que ele teimava em oferecer.
O
empregado chegou perto dos casais que ali se encontravam a ser incomodados pelo
linguajar do indivíduo e informou que ele já teria estado dentro do
estabelecimento e que por isso mesmo já teria chamado a polícia.
Não
sei ao certo quanto tempo mediou entre a chamada dos agentes até à chegada de
uma dupla da PSP, mas seguramente mais de meia hora, o tempo do homem
alcoolizado ter levado “dois berros” e saído dali, para ir incomodar outros
pacatos cidadãos.
Não
faço ideia se os polícias acabaram por encontrar o homem ou não, o que me deixa
apreensivo é que com uma esquadra quase ao lado do evento a polícia leve tanto
tempo a chegar. Mais apreensivo fico, quando num evento como este não existe
pelo menos um agente da autoridade a patrulhar a zona a fim de desincentivar
algum tipo de desordeiro.
Certamente
que no tempo em que foi entregue o foral manuelino a Setúbal, cujos 500 anos
agora se estavam a comemorar, seriam mais eficientes e os homens do varapau poriam
alguma ordem na cidade.
O
país evoluiu, tornamo-nos um povo de brandos costumes e quinhentos anos depois
os bêbados, os ladrões, os traficantes e os vândalos podem andar a incomodar o
pacato cidadão, porque polícia para manter a ordem nem vê-la e vamos lá nós saber
porquê…
Rui
Canas Gaspar
2014-junho-28
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