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sábado, 28 de junho de 2014

Feira Quinhentista em Setúbal um espetáculo completo onde até nem o bêbado faltou

O final da tarde estava agradável. Na baixa de Setúbal começava a verificar-se um desusado movimento de pessoas que calma e descontraidamente caminhavam conversando e de vez em quando paravam para ver algumas montras das casas comerciais que se encontravam abertas na Rua Dr. Paula Borba, aquela que entre os antigos setubalenses é conhecida por Rua dos Ourives.

Mas, o principal motivo deste desusado movimento, naquela que em tempos já foi a mais movimentada artéria da cidade, era a Feira Quinhentista que aqui tinha lugar, com os seus pavilhões instalados no Largo da Misericórdia e na Ribeira Velha e com os seus vendedores trajados como se estivessem na época de quinhentos.

Uma dupla de músicos tocando gaita-de-foles e tambor deslocava-se animando o espaço entre os dois largos, alegrando quem passava, enquanto outra dupla de homens de armas, empunhando as suas espadas de vez em quando faziam uma demonstração da sua arte de bem combater.

Se no largo da Misericórdia uma das tendas servia o Keback, aquela deliciosa comida típica de alguns países árabes e uma outra chamava a particular atenção dos visitantes pelo agradável cheiro de dali provinha devido à variedade de frutos secos e pastas de figo, de nozes ou de tâmaras. Porém, por aquelas bandas nada se encontrava para comer que fosse dos nossos latinos gostos.

Já no Largo da Misericórdia o agradável e típico stand montado pela dinâmica APPACDM , associação que apoia as crianças com problemas de saúde mental, servia alguns doces e petiscos, embora o pequeno espaço já se encontrasse repleto de clientes.

Mas, ali naquele largo estava a funcionar um único lugar onde se poderia petiscar, um tipo de tapas como é típico em Espanha e que por cá começa a ser também procurado e foi lá que me sentei e esperei não sei quanto tempo até que fosse atendido pela atarefada senhora que não tinha mãos a medir.

E foi nesse espaço de tempo, mais de 15 minutos, que se encostou à proteção da esplanada um homem, “perdido de bêbado” que não parava de incomodar quem calmamente queria estar sossegado a apreciar outro tipo espetáculo que não aquele degradante que ele teimava em oferecer.

O empregado chegou perto dos casais que ali se encontravam a ser incomodados pelo linguajar do indivíduo e informou que ele já teria estado dentro do estabelecimento e que por isso mesmo já teria chamado a polícia.

Não sei ao certo quanto tempo mediou entre a chamada dos agentes até à chegada de uma dupla da PSP, mas seguramente mais de meia hora, o tempo do homem alcoolizado ter levado “dois berros” e saído dali, para ir incomodar outros pacatos cidadãos.

Não faço ideia se os polícias acabaram por encontrar o homem ou não, o que me deixa apreensivo é que com uma esquadra quase ao lado do evento a polícia leve tanto tempo a chegar. Mais apreensivo fico, quando num evento como este não existe pelo menos um agente da autoridade a patrulhar a zona a fim de desincentivar algum tipo de desordeiro.

Certamente que no tempo em que foi entregue o foral manuelino a Setúbal, cujos 500 anos agora se estavam a comemorar, seriam mais eficientes e os homens do varapau poriam alguma ordem na cidade.
 
O país evoluiu, tornamo-nos um povo de brandos costumes e quinhentos anos depois os bêbados, os ladrões, os traficantes e os vândalos podem andar a incomodar o pacato cidadão, porque polícia para manter a ordem nem vê-la e vamos lá nós saber porquê…

Rui Canas Gaspar
2014-junho-28


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