Tudo vai mudando e até os
mortos setubalenses já não são o que eram…

Fica
situada na Avenida Jaime Cortesão, no lado oposto ao cemitério municipal, porém,
há cerca de meia centena de anos a oficina ficava localizada no outro lado, mesmo junto ao cemitério.
Desde
há aproximadamente um século que os trabalhos de cantaria saídos da oficina de
Américo de Oliveira, Lda. fazem companhia aos setubalenses, estejam eles vivos
ou mortos.
Sejam
as bancadas das nossas cozinhas ou os patins, cobertores e espelhos dos degraus
dos nossos prédios, das simples, ou mais elaboradas, moradas dos nossos ente-queridos
falecidos, de tudo um pouco tem passado pelas mãos de hábeis canteiros, uma
atividade provavelmente em vias de extinção, aqui pelas nossas bandas.
As
obras de arte que outrora ali eram esculpidas, deixaram de ser produzidas localmente
e hoje chegam-nos vindas do Alentejo, na sua maioria já feitas, com o recurso a
máquinas. Longe vão os tempos em que eram esculpidas à mão…
As
demais oficinas de canteiros foram encerrando portas e a oficina setubalense
ainda se vai mantendo ativa, embora os principais clientes sejam os mortos
porque os vivos de momento pouco vão consumindo.
Infelizmente,
até os mortos já não são o que eram. São poucos os privilegiados que têm como
ultima morada uma elaborada e tradicional sepultura construída em mármore ou granito,
daí que as estátuas estejam por vezes mais de um ano expostas na oficina sem serem
vendidas.
Para
agravar ainda mais a situação, presentemente já não são poucos os que escolhem não
repousar os seus restos mortais na terra setubalense, optando pela nova moda de
se desfazerem do seu corpo através da incineração e, sendo assim, nem uma singela
sepultura construída com simples pedra mármore acaba por ser construída.
E
é assim que vamos assistindo, provavelmente, aos últimos dias de uma atividade
que durante muitos e muitos anos nos habituamos a conviver e que tal como a
incineração está condenada a ser reduzida ao pó.
Rui
Canas Gaspar
2014-junho-26
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