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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Quinhões e Tecas 

Durante muitos anos os pescadores setubalenses da pesca da sardinha não tinham um vencimento fixo, ainda que pequeno, mas somente recebiam em função do peixe que conseguiam capturar.

Uma traineira tinha uma companha de cerca de 18 homens e estes recebiam conforme a sua categoria. Assim sendo, os ganhos eram repartidos em partes percentuais.

O mestre da embarcação poderia auferir entre 4 e 7 partes.

O contramestre, ou mestre de leme ganhava duas a duas partes e meia. 

O motorista era o único que auferia um salário fixo e recebia ainda duas partes e meia do valor pescado.

Já o pedreiro, aquele homem que conhecia os fundos marinhos e o local onde se encontravam as rochas que podiam partir as redes, ganhava duas partes e meia.

Os dois tripulantes da chata, pequeno barco que operava no interior  do cerco das redes, ganhavam uma parte e mais uma teca de peixe ao critério do mestre.

O escrivão, homem que tinha a responsabilidade pela escrita a bordo, auferia uma parte e meia.

Já o mestre de terra, aquele profissional que não ia ao mar para ficar a tratar das redes em terra, ganhava uma parte e meia.

Os quinhões de peixe eram normalmente divididos recorrendo-se a sorteio e eram feitos lotes de valor idêntico. Depois um pescador virava-se de costas para o peixe, enquanto outro apontando para um lote pergunta: - Para quem é este? Ao que aquele que estava de costas dizia o nome de um seu camarada e assim continuaria até ao último lote.

Quando algum camarada ficava doente o mestre mandava também fazer um quinhão para entregar, ou vender, levando o dinheiro para aquele que estava impossibilitado de acompanhar a companha nas lides da pesca.

Era assim que funcionavam os pescadores setubalenses e provavelmente muitos outros de outras regiões. Homens valentes que sabiam o valor da camaradagem melhor do que ninguém e viviam-nano seu dia-a-dia.

São coisas da nossa terra. Coisas de Setúbal!

Rui Canas Gaspar

2016-dezembro-07

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