Quinhões e Tecas

Uma
traineira tinha uma companha de cerca de 18 homens e estes recebiam conforme a
sua categoria. Assim sendo, os ganhos eram repartidos em partes percentuais.
O
mestre da embarcação poderia auferir entre 4 e 7 partes.
O
contramestre, ou mestre de leme ganhava duas a duas partes e meia.
O
motorista era o único que auferia um salário fixo e recebia ainda duas partes e
meia do valor pescado.
Já
o pedreiro, aquele homem que conhecia os fundos marinhos e o local onde se
encontravam as rochas que podiam partir as redes, ganhava duas partes e meia.
Os
dois tripulantes da chata, pequeno barco que operava no interior do cerco das redes, ganhavam uma parte e mais
uma teca de peixe ao critério do mestre.
O
escrivão, homem que tinha a responsabilidade pela escrita a bordo, auferia uma
parte e meia.
Já
o mestre de terra, aquele profissional que não ia ao mar para ficar a tratar
das redes em terra, ganhava uma parte e meia.
Os
quinhões de peixe eram normalmente divididos recorrendo-se a sorteio e eram
feitos lotes de valor idêntico. Depois um pescador virava-se de costas para o
peixe, enquanto outro apontando para um lote pergunta: - Para quem é este? Ao que
aquele que estava de costas dizia o nome de um seu camarada e assim continuaria
até ao último lote.
Quando
algum camarada ficava doente o mestre mandava também fazer um quinhão para
entregar, ou vender, levando o dinheiro para aquele que estava impossibilitado
de acompanhar a companha nas lides da pesca.
Era
assim que funcionavam os pescadores setubalenses e provavelmente muitos outros
de outras regiões. Homens valentes que sabiam o valor da camaradagem melhor do
que ninguém e viviam-nano seu dia-a-dia.
São
coisas da nossa terra. Coisas de Setúbal!
Rui
Canas Gaspar
2016-dezembro-07
Sem comentários:
Enviar um comentário