Rampa da Arrábida ou o
sonho tornado realidade
Por detrás de um qualquer empreendimento, pequeno ou
grande, há sempre o sonho de alguém que, por vezes, remando contra ventos e
marés o consegue tornar realidade.
A Rampa da Arrábida, provavelmente o mais importante
evento desportivo realizado em Setúbal neste ano de 2017 é disso exemplo, dado
ter nascido do sonho de Fernando Matias, um homem com raízes setubalenses e com
uma vida ligada aos automóveis.
Os seus avós eram proprietários de uma fábrica de
conservas aqui na cidade e viriam a falecer num acidente de automóvel, quando
regressavam de Palmela em 1949, num Citroen Arrastadeira, deixando órfão um
rapaz de 12 anos que foi morar para casa de uns tios, em Lisboa.
A criança cresceu lá pela capital, casou-se, mas o seu
coração ficou desde sempre ligado a Setúbal, para onde se deslocava quase todos
os fins de semana frequentando naquele tempo as lindas praias da serra mãe, de Galapos
e Portinho da Arrábida.
Setúbal naturalmente estava sempre no seu coração e é
desta linda terra que guarda as melhores recordações de infância.
O pai de Fernando Martins, até perto dos 40 anos, competiu
nalgumas provas automobilísticas e, a Rampa da Arrábida, era a sua favorita por
questões óbvias, logo, naturalmente também se tornou a do filho.
Com o final da competição na serra muitos adeptos do
desporto automóvel ficaram tristes e Fernando Martins nunca ficou conformado. Por
isso, um dia decidiu juntar um grupo de amigos igualmente amantes do desporto
automóvel apaixonados pela Serra da Arrábida e sobretudo decididos a trazer de
volta a competição na Rampa.
Durante três anos este grupo trabalhou duro tendo em
mente atingir o seu principal objetivo que era um dia ver de novo a Rampa da
Arrábida, inicialmente organizada pela secção de motorismo do Vitória Futebol
Clube, ser uma realidade.
Claro que opositores, descrentes e céticos seriam o
maior obstáculo a vencer, mais que as próprias dificuldades próprias de um
grande evento com estas características muito específicas.
O sonho de Fernando Matias partilhado e assumido igualmente por Luís Caramelo, Fernando Tomé, José Manuel Barreto, Orlanda Matias, Bruno Coutinho e André Lopes estava prestes a tornar-se realidade.
Durante longos meses eles fizeram de tudo um pouco de forma a tornar a Rampa mais segura para os utilizadores. Limparam bermas e vegetação, lavaram a rampa onde se encontrava suja de cimento, melhoraram o pavimento onde o mesmo tinha socalcos de raízes de árvores e até conseguiram que parte dos blocos de pedra e barras de betão das bermas fossem substituídas por centenas de metros de rails protetores, mais seguros para todos os automobilistas e motociclistas que utilizam aquele troço da Serra da Arrábida.
Para dar mais força à sua modalidade aqueles amigos decidiram formar um clube visando promover o desporto automóvel porque desta forma seria mais fácil obter licenciamentos e conseguir os imprescindíveis apoios oficiais e particulares. Nascia assim, em 2016, o Clube de Motorismo de Setúbal (CMS) e com ele regressava a Rampa da Arrábida, um sonho tornado realidade no sábado dia 23 de setembro deste ano de 2017.
Rui Canas Gaspar
2017-setembro-20
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