Foi a 19 de abril…
No
dia 14 de abril de 1858, a Câmara Municipal, presidida por Aníbal Alvares da
Silva dirige ao rei a petição no sentido deste poder elevar a vila de Setúbal à
categoria de cidade argumentando o seguinte: “Setúbal, conhecida por toda a
parte do mundo pela extensão do seu comércio de sal, laranja, cortiça e cereais
(…) recebendo no seu magnífico porto o preito que lhe pagam as principais nações
do Mundo, cujos estandartes ali flutuam atraídos pela excelência dos seus
géneros e produtos da sua indústria (…) pede a Vossa Majestade a graça de
elevar esta muito notável vila à categoria de cidade”.
O
tempo passou e, no primaveril dia 19 de abril de 1860, o jovem Pedro de Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga Xavier João
António Leopoldo Victor Francisco de Assis Júlio Amélio de Saxe-Coburgo-Gotha e
Bragança, mais
conhecido entre os comuns mortais por D. Pedro V, a quem alguns portugueses
resolveram cognomizar de “O esperançoso”, do alto dos seus 22 aninhos, defensor
acérrimo da abolição da escravatura, elevava a então “ notável villa” de Setúbal
à categoria de cidade tendo mandado despachar o decreto-lei, do qual se
salienta a seguinte passagem:
“Tendo em muito apreço os constantes
testemunhos que os seus habitantes têm dado de nobre dedicação ao trono e às
instituições constitucionais da monarquia: hei por bem, anuindo à representação
da câmara municipal de Setúbal; e me apraz que nesta qualidade goze de todas as
prerrogativas, liberdades e franquezas que direitamente lhe pertencerem (…)”.
Eram
passados apenas 88 anos sobre esta importante efeméride, quando uma senhora
conhecida entre os setubalenses de então pelo nome de Esguita, era chamada para
assistir no Bairro de Troino a uma jovem de vinte aninhos que se contorcia com
as dores do parto.
E
tal como na generalidade das situações por aquelas bandas, sem cartões nem
complicações, não nascia um menino, porque isso era privilégio de senhoras
ricas, mas sim um moço, que começou logo por ser alvo de discussão entre a
progenitora e aquele a quem convidara para padrinho, um cavalheiro de nome
Primo.
Ora
como a jovem entendia que Primo não deveria ser nome de gente e o Primo que não
gostava do seu nome entendia que o seu afilhado deveria também ser Primo, logo
acabou por ser descartado e outro padrinho rapidamente o substituiu.
E
foi assim que no natalício dia 19 de abril, quando Setúbal comemorava o seu 88º
aniversário de elevação a cidade, nasceria nesta terra, de Bocage, Luisa Todi e
do Primo, mais um outro setubalense, a quem decidiram finalmente colocar não um tão extenso nome
como o daquele menino que nasceu nobre, mas sim um bem mais pequeno, à medida da sua qualidade plebeia, embora para a sua avozinha ele fosse o seu Rei da China, do Japão, e de tantas outras estranhas terras que o bebé Rui um dia provavelmente iria conhecer...
Rui
Canas Gaspar
2014-abril-19
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