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sábado, 19 de abril de 2014

Foi a 19 de abril…

No dia 14 de abril de 1858, a Câmara Municipal, presidida por Aníbal Alvares da Silva dirige ao rei a petição no sentido deste poder elevar a vila de Setúbal à categoria de cidade argumentando o seguinte: “Setúbal, conhecida por toda a parte do mundo pela extensão do seu comércio de sal, laranja, cortiça e cereais (…) recebendo no seu magnífico porto o preito que lhe pagam as principais nações do Mundo, cujos estandartes ali flutuam atraídos pela excelência dos seus géneros e produtos da sua indústria (…) pede a Vossa Majestade a graça de elevar esta muito notável vila à categoria de cidade”.

O tempo passou e, no primaveril dia 19 de abril de 1860, o jovem Pedro de Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga Xavier João António Leopoldo Victor Francisco de Assis Júlio Amélio de Saxe-Coburgo-Gotha e Bragança, mais conhecido entre os comuns mortais por D. Pedro V, a quem alguns portugueses resolveram cognomizar de “O esperançoso”, do alto dos seus 22 aninhos, defensor acérrimo da abolição da escravatura, elevava a então “ notável villa” de Setúbal à categoria de cidade tendo mandado despachar o decreto-lei, do qual se salienta a seguinte passagem:

 “Tendo em muito apreço os constantes testemunhos que os seus habitantes têm dado de nobre dedicação ao trono e às instituições constitucionais da monarquia: hei por bem, anuindo à representação da câmara municipal de Setúbal; e me apraz que nesta qualidade goze de todas as prerrogativas, liberdades e franquezas que direitamente lhe pertencerem (…)”.

Eram passados apenas 88 anos sobre esta importante efeméride, quando uma senhora conhecida entre os setubalenses de então pelo nome de Esguita, era chamada para assistir no Bairro de Troino a uma jovem de vinte aninhos que se contorcia com as dores do parto.

E tal como na generalidade das situações por aquelas bandas, sem cartões nem complicações, não nascia um menino, porque isso era privilégio de senhoras ricas, mas sim um moço, que começou logo por ser alvo de discussão entre a progenitora e aquele a quem convidara para padrinho, um cavalheiro de nome Primo.

Ora como a jovem entendia que Primo não deveria ser nome de gente e o Primo que não gostava do seu nome entendia que o seu afilhado deveria também ser Primo, logo acabou por ser descartado e outro padrinho rapidamente o substituiu.

E foi assim que no natalício dia 19 de abril, quando Setúbal comemorava o seu 88º aniversário de elevação a cidade, nasceria nesta terra, de Bocage, Luisa Todi e do Primo, mais um outro setubalense, a quem decidiram finalmente colocar não um tão extenso nome como o daquele menino que nasceu nobre, mas sim um bem mais pequeno, à medida da sua qualidade plebeia, embora para a sua avozinha ele fosse o seu Rei da China, do Japão, e de tantas outras estranhas terras que o bebé Rui um dia provavelmente iria conhecer...

Rui Canas Gaspar

2014-abril-19

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