Geração de ouro
Estava
a almoçar com o meu irmão e meu pai uns deliciosos e frescos alcorrazes grelhados
quando na televisão, onde passava o telejornal da TVI, reparamos num rosto
nosso conhecido, o José Miguel Nogueira, sociólogo, que na Fundação Gulbenkian apresentava
um estudo feito por si sobre as famílias com crianças e jovens autistas.
O
Zé Miguel foi escuteiro do C.N.E., no Agrupamento 62 (Ordem Terceira) em
Setúbal, e o seu aparecimento no pequeno écran foi motivo para uma nova
conversa, entre mim e o Orlando, recordando os anos entre 1975 e 1980 quando
por aquele Agrupamento passaram cerca de 200 rapazes e raparigas, hoje homens e
mulheres.
E
foi num exercício de memória em que ia escrevendo o nome daqueles que nos íamos
lembrando que inscrevemos mais de meia centena com as mais diversas atividades
profissionais de topo, alguns com elevadas responsabilidades a nível local,
nacional e internacional, no campo das artes, ciência, finanças, etc. e onde
até não faltam dois oficiais superiores da Força Aérea Portuguesa.
Num
tão reduzido grupo de jovens, aberto a todos sem restrições de classes sociais e
onde num tão curto espaço de tempo se conseguem formar um tão elevado numero de
quadros de topo, numa altura em que se viviam fortes convulsões sociais e
politicas não deixa de ser curioso tentar perceber o porquê deste sucesso.
Naquele
conturbado período revolucionário, este Agrupamento funcionava para a Região de
Setúbal como uma espécie de tropa de choque, era a ele que os Serviços
Regionais recorriam com maior frequência, fosse na animação de grandes
atividades, fosse na representação da Região, fosse até como modelos na forma
de fardamento, numa altura tão propícia ao desleixo na questão de uniformização.
Foi
também este o Agrupamento “cobaia” para a introdução do escutismo feminino no
C.N.E. de que a Região de Setúbal teve ação destacadíssima a nível nacional.
E
foi deste formidável grupo de rapazes e moças, que viveram o Escutismo de alma
e coração, num Agrupamento onde a sede estava aberta todos os dias e onde até o
mais alto responsável pela Região Pastoral, D. João Alves (posteriormente bispo
de Coimbra) e o seu sucessor D. Manuel Martins, o primeiro bispo de Setúbal,
gostavam de ir dar dois dedos de conversa com os rapazes e moças mais velhos,
que saíram tão grande quantidade de altos quadros dirigentes respeitados e
ouvidos na sociedade portuguesa.
Praticamente
todos estes antigos rapazes e moças mantêm vivo o espírito escutista que os
formou e ainda hoje é grande a alegria e solidariedade que demonstram sempre
que se encontram. Uma prova insofismável de que o método escutista quando
aplicado corretamente e vivido intensamente produz os melhores e mais
deliciosas frutos.
Rui
Canas Gaspar
2014-abril-03
Sem comentários:
Enviar um comentário