Um mau negócio para todos
Há
anos atrás costumava correr no mundo dos negócios uma frase, que de certo modo
servia de guia entre negociantes, dizia-se então que: “negócio que não fosse
bom para as duas partes não era negócio”. Ou seja, se duas pessoas negociavam algo,
ambas teriam de ficar satisfeitas com o que teriam acordado, sem que um ficasse
a ganhar e o outro se sentisse perdedor.
Embora
não seja este propriamente o caso, atendendo a que não houve negócio algum
entre duas partes, a situação reveste-se porém de alguns contornos parecidos, o
que me leva a concluir que aqui não só não existiu um bom negócio, mas sim uma
péssima situação para todas as partes envolvidas direta e indiretamente.
Fruto de contencioso os barcos da Transado e suas instalações foram parar, há cerca de uma dezena de anos, à posse da APSS. A administração da Transado recorreu judicialmente, o caso arrasta-se há anos pelo tribunal e a APSS que pouco tempo passado e, com a entrada ao serviço dos novos barcos da Atlantic Ferries acabou por recolher os antigos fery-boats e os convencionais que faziam o trajeto entre Setúbal e Troia aos seus ancoradouros, lá para as bandas da Mitrena.
As
embarcações encontram-se à responsabilidade da APSS, que como se costuma dizer,
ficou com a criança nos braços e, com o passar do tempo têm vindo a ser alvo de
acentuada degradação natural bem como daquela motivada pela intervenção humana,
sem este entidade possa alienar aquele património porquanto o assunto pendente
em Tribunal ainda não transitou em julgado.
Entretanto,
o novo operador dos transportes fluviais entre Setúbal e Troia e vice-versa,
segundo informações que correm na cidade, não está com resultados operacionais
favoráveis, fruto do elevado valor investido na aquisição das novas embarcações
e na acentuada diminuição de pessoas e veículos transportados. Ora estes resultados
seriam bem diferentes se tivesse optado pela aquisição dos antigos barcos em
vez de investir nos novos.
Não
vale a pena entrar em grandes pormenores, sendo que muita informação sobre este
assunto encontra-se disponível publicamente. Porém, para o comum cidadão é
fácil concluir que este é um daqueles casos em que mais valia ter havido um mau
acordo que uma boa sentença.
Sentença
que ainda não foi proferida devido à lentidão da Justiça Portuguesa, mas que
faz com que uma frota de barcos fluviais no valor de alguns milhões de euros
fique a apodrecer no Sado, ocupando espaço físico que seguramente poderia ser
utilizado de forma mais produtiva e que quando for proferida certamente ninguém
irá aproveitar porque os barcos, se ainda existirem, estão prontos para serem
vendidos ao quilo, como sucata.
Rui
Canas Gaspar
2014-abril-16
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