Era uma vez…
Naquele
tempo em Setúbal as muitas fábricas de conservas de sardinha ainda faziam sair
pelas suas altas chaminés o fumo proveniente da cozedura do peixe que as
mulheres chamadas a trabalhar pelas estridentes e inconfundíveis sirenes correndo
ladeira a baixo, desde o alto de Troino até à beira-rio tratavam de preparar
para conserva.
O
calendário marcava 18 de abril quando a jovem senhora, grávida de quase 9
meses, com o seu esposo, pescador, saíram a pé da Rua das Oliveiras e foram até
Palmela, subindo a serpenteante Estrada da Cobra com o objetivo de ver a
procissão que ali então se realizava.
Na
volta para Setúbal o céu abriu-se e uma valente chuvada empapou o casal da
cabeça aos pés e nem a ombreira da taberna do “Ás de Paus”, no Rio da Figueira,
conseguiu abrigar aquela andarilha.
No
dia seguinte, oito dias antes do previsto, nascia o primeiro filho deste jovem
casal de troineiros.
Naturalmente
que para a sua família o pequenote era o rei daquele lar e tinha até o
privilégio das suas “bem cheirosas” fraldas (porque não existiam descartáveis)
serem lavadas nas primeiras águas que corriam para os tanques da popular
Geménia.
A
criança foi apresentada à população de todo aquele populoso bairro, onde as
pessoas funcionavam como uma grande família, pela sua bisavó, que babosa, e com
o bebé embrulhado num xaile, mostrava a toda a gente o seu mais recente
descendente anunciando-o como o seu rei da França, rei da Inglaterra, rei da Espanha
e se mais reinos lhe viesse à cabeça, (fossem
monarquias ao repúblicas) estavam safos porque o real governante já tinha
nascido.
E
foi assim naquele primaveril dia 19 de abril de 1948 quando se comemorava mais
um aniversário da elevação de Setúbal à categoria de cidade que nascia um
troineiro que afinal não reinou em lado nenhum a não ser em sua casa e mesmo
assim quando a rainha o deixou.
Obrigado
a todos pelo carinho
Abreijos
Rui
Canas Gaspar
2019-Abril-19
Troineiro.blogspot.com
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