Furto e vandalismo no
Bairro Salgado
Foi
no século XIX que se começou a desenvolver aquele que seria designado por
Bairro Salgado, uma nova zona de Setúbal onde a classe burguesa decidiu erigir
a sua habitação.
Naquela
altura o bairro ficava relativamente perto do centro da cidade e
suficientemente afastado das zonas onde habitavam as classes trabalhadoras.
Bonitas
casas, onde não faltam exemplares “arte nova” davam àquela nova artéria citadina
um ar distinto e sofisticado.
Os
empresários locais, industriais de conservas de peixe e armadores escolheram a zona para sua habitação e as suas casas refletiam exteriormente o
cuidado posto na sua execução e decoração, atendendo aos bonitos painéis de
azulejos e aos pormenores arquitetónicos que ostentam.
Os
primeiros habitantes acabaram por morrer, muitos dos seus herdeiros abandonaram
a cidade ou mudaram-se para outras zonas e gradualmente o património edificado
foi-se degradando.
A
partir de determinada altura começa a descaracterização do bairro quando se
permitiu a construção de prédios onde antes existiam bonitas moradias
unifamiliares. A própria Autarquia permutou o edifício da escola existente no
bairro, a necessitar de obras, por outra nova erigida noutra zona da cidade. No
terreno ocupado pela antiga escola nasceria um prédio multifamiliar, em
propriedade horizontal.
Nos
últimos anos a degradação acentuou-se chegando ao ponto de ser difícil
distinguir quais as casas ocupadas das desocupadas, embora existam também bons
exemplos de recuperação urbanística.
É
comum ver-se portas e janelas fechadas a tijolo. Entradas escancaradas onde se acolhem pessoas
sem-abrigo e alguns marginais, a par de um fenómeno mais recente o vandalismo e
o furto.
Curiosamente,
neste último fenómeno, o do furto, os larápios começam por roubar portas e
janelas de alumínio nas casas desocupadas para depois entrarem nas habitações e
retirarem tudo o que seja fio de cobre e material vendável.
E
é assim que vamos encontrar neste início de 2014 o vandalismo materializado, nos
inestéticos grafite e uma das duas emblemáticas imagens de Buda que decoravam o
bar do mesmo nome, partida no chão. Quase ao lado, verifica-se a ausência das
janelas de alumínio no renovado edifício daquela onde foi até há pouco a
Farmácia Sália.
Recuperação
urbanística e património altamente degradado bem como o roubo e vandalismo andam a par e à solta neste bairro que foi outrora o mais elegante da cidade do Sado, onde a poderosa classe dominante habitou durante vários anos e onde ainda hoje persistem alguns bons exemplares arquitetónicos convenientemente recuperados e habitados por bons, pacatos e honestos cidadãos.
Rui Canas Gaspar
2014-janeiro-02
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