Em Setúbal, foi declarada “guerra”
à Quinta de Prostes ?
Em
1942 a Grande Guerra generalizava-se entre vários países do mundo ceifando
milhões de vidas, enquanto o pequeno Portugal, a mais antiga nação do
continente europeu mantinha-se neutro e em paz.
As
fábricas de conservas de peixe setubalenses não davam mãos a medir produzindo
os alimentos enlatados que ajudavam a mitigar a fome a muitos dos combatentes
de ambos os lados do conflito.
Muito
dinheiro se ganhou em Setúbal nessa época, também conhecida em terras sadinas
pelo “tempo do volfrâmio”.
Com
as fortunas conseguidas foram então feitas algumas belas casas, quer no campo
quer na cidade, por aqueles que dominavam o mundo dos negócios.
Agosto
de 1942 foi um mês negro para o Brasil que viu serem afundados pelos submarinos
alemães seis dos seus barcos da marinha mercante em apenas dois dias, morrendo
600 pessoas, o que levou aquela nação lusófona a declarar guerra às potências
do Eixo, no último dia desse mês.
Nesse
mesmo dia, no outro lado do Atlântico, nos arredores de Setúbal certamente seria
um dia de festa. Na Quinta de Prostes o seu proprietário assinalava a data em
que inaugurava novas instalações, embelezando a sua produtiva quinta.
Junto
à sua enorme casa tinha construído um generoso tanque que não só servia para as
lavagens como de reservatório de água, embora o precioso líquido não faltasse
nas suas boas terras agrícolas, da melhor qualidade.
As
instalações dos animais domésticos estavam bem cuidadas, tal como o restante espaço
que não estava estritamente adstrito à atividade agrícola e onde plantou
algumas espécies de plantas exóticas que embelezavam o local, dotado de um pequeno
caminho devidamente calcetado.
A
quinta passou então a ter uma construção emblemática, edificada mesmo em frente
ao seu portão de entrada, o seu pombal, onde as aves rapidamente se acostumaram
e até hoje, já depois da propriedade ter ficado abandonada e em ruinas, ainda
por lá nidificam.
E
é esta quinta, uma das outrora produtivas unidades agrícolas da fértil Várzea
de Setúbal, que está a conhecer os seus últimos dias, devido à construção da
avenida que vai passar pelos seus terrenos destruindo o que resta da outrora agradável
propriedade.
Naquele
distante dia 31 de agosto de 1942 a Quinta de Prostes conheceu um dia festivo
onde não faltaram os pombos a entrar e sair do seu novo pombal, um espaço que
hoje, passados mais de setenta anos, ao que parece, tem os seus dias contados,
não devido aos torpedos dos submarinos alemães mas sim às potentes máquinas
utilizadas na construção de novas vias urbanas.
Rui
Canas Gaspar
2014-setembro-13
www.troineiro.blogspot.com
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