Francisco Finura um
setubalense inesquecível
Era
eu um pequeno rapaz quando me habituei a ver pelo largo da Fonte Nova um homem
vestido com fato-macaco azul, de impecável lenço branco sobressaindo do bolso
de cima, cachimbo no canto da boca e fazendo-se transportar numa bicicleta de
carreto preso, o que lhe permitia parar, andar para a frente e para trás ou
seja tudo aquilo que as outras o não conseguiam fazer.
A
sua figura despertava a natural curiosidade entre os pequenos troineiros que
nutriam natural simpatia por aquele seu conterrâneo que sabiam ser senhor de múltiplas
habilidades. Em casa ouviam os seus pais por vezes comentar que um cabo ou um
pedaço de rede tinha ficado preso na hélice do barco e tiveram de chamar o “Finuras”
para mergulhar e resolver o assunto.
Quando
foram descobertas na Rua Direita de Troino, duas ânforas romanas repletas com
centenas de moedas, Francisco Finura foi dos primeiros a ir até lá e conseguiu
algumas peças. Eu e outros rapazes também as viríamos a conseguir, até que as
autoridades chegaram e recolheram o achado que hoje se encontra no museu da
cidade.
Este
homem engenhoso, com os mais diversificados interesses, era senhor de múltiplos
ofícios e por isso mesmo conhecido como
um “especialista em trabalhos não especializados”.
Quando
eu contava os meus 17 aninhos e me encontrava empregado na Casa dos Pescadores
era ao senhor Francisco Finura que a D. Maria Virginia, responsável por aquela
casa, recorria quando algo por ali deixava de funcionar.
Nessa
época o nosso homem estava convencido que seria um talentoso hipnotizador e,
como sempre gostei de rir e brincar, quando ele era chamado, uma colega abria a
janela para dar conta da sua chegada e mal o via entrar no edifício, ao
aproximar-se da secretaria olhava para ele e caía no chão “hipnotizado”.
O
primeiro trabalho que Francisco Finura tinha que ali fazer era acordar-me do
profundo sono. As colegas tratavam de dar ênfase ao assunto mostrando-se
altamente preocupadas, ao que o grande hipnotizador respondia calmamente “o
rapaz é faco, o rapaz é fraco” porém depois de passados alguns minutos lá eu
acordava, todo alegre e bem disposto.
Em
1968 participamos num dos famosos carnavais de Setúbal. Francisco Finura, como
rei do carnaval, enquanto eu, qual centurião romano, comandava uma “centúria”
de algumas dezenas de legionários romanos.
Na
década seguinte, em 1973, voltamos a representar a nossa cidade, desta vez foi
na televisão. Francisco Finura contou muitas das suas façanhas, não só como homem
de muito mais que “ dos sete ofícios” mas também como nadador salvador, a quem quase
três dezenas de pessoas devem a vida. Eu encontrava-me integrado no Coral Luisa
Todi que ali se apresentou naquele programa intitulado: “25 milhões de
portugueses”.
Francisco
Augusto da Silva Finura, o “finuras” nasceu em 1929 galardoado com a medalha de
Honra da cidade de Setúbal já não se encontra entre nós, tendo falecido em 4 de
setembro de 2012, mas a sua memória é guardada no coração de muitos
setubalenses que com ele tiveram o privilégio de conviver ou de simplesmente o
conhecer, como foi o meu caso.
Rui
Canas Gaspar
2014-setembro-24
www.troineiro.blogspot.com
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