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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Francisco Finura um setubalense inesquecível

Era eu um pequeno rapaz quando me habituei a ver pelo largo da Fonte Nova um homem vestido com fato-macaco azul, de impecável lenço branco sobressaindo do bolso de cima, cachimbo no canto da boca e fazendo-se transportar numa bicicleta de carreto preso, o que lhe permitia parar, andar para a frente e para trás ou seja tudo aquilo que as outras o não conseguiam fazer.

A sua figura despertava a natural curiosidade entre os pequenos troineiros que nutriam natural simpatia por aquele seu conterrâneo que sabiam ser senhor de múltiplas habilidades. Em casa ouviam os seus pais por vezes comentar que um cabo ou um pedaço de rede tinha ficado preso na hélice do barco e tiveram de chamar o “Finuras” para mergulhar e resolver o assunto.

Quando foram descobertas na Rua Direita de Troino, duas ânforas romanas repletas com centenas de moedas, Francisco Finura foi dos primeiros a ir até lá e conseguiu algumas peças. Eu e outros rapazes também as viríamos a conseguir, até que as autoridades chegaram e recolheram o achado que hoje se encontra no museu da cidade.
Este homem engenhoso, com os mais diversificados interesses, era senhor de múltiplos ofícios e por isso mesmo  conhecido como um “especialista em trabalhos não especializados”.

Quando eu contava os meus 17 aninhos e me encontrava empregado na Casa dos Pescadores era ao senhor Francisco Finura que a D. Maria Virginia, responsável por aquela casa, recorria quando algo por ali deixava de funcionar.
Nessa época o nosso homem estava convencido que seria um talentoso hipnotizador e, como sempre gostei de rir e brincar, quando ele era chamado, uma colega abria a janela para dar conta da sua chegada e mal o via entrar no edifício, ao aproximar-se da secretaria olhava para ele e caía no chão “hipnotizado”.

O primeiro trabalho que Francisco Finura tinha que ali fazer era acordar-me do profundo sono. As colegas tratavam de dar ênfase ao assunto mostrando-se altamente preocupadas, ao que o grande hipnotizador respondia calmamente “o rapaz é faco, o rapaz é fraco” porém depois de passados alguns minutos lá eu acordava, todo alegre e bem disposto.

Em 1968 participamos num dos famosos carnavais de Setúbal. Francisco Finura, como rei do carnaval, enquanto eu, qual centurião romano, comandava uma “centúria” de algumas dezenas de legionários romanos.

Na década seguinte, em 1973, voltamos a representar a nossa cidade, desta vez foi na televisão. Francisco Finura contou muitas das suas façanhas, não só como homem de muito mais que “ dos sete ofícios” mas também como nadador salvador, a quem quase três dezenas de pessoas devem a vida. Eu encontrava-me integrado no Coral Luisa Todi que ali se apresentou naquele programa intitulado: “25 milhões de portugueses”.

Francisco Augusto da Silva Finura, o “finuras” nasceu em 1929 galardoado com a medalha de Honra da cidade de Setúbal já não se encontra entre nós, tendo falecido em 4 de setembro de 2012, mas a sua memória é guardada no coração de muitos setubalenses que com ele tiveram o privilégio de conviver ou de simplesmente o conhecer, como foi o meu caso.

Rui Canas Gaspar
2014-setembro-24

www.troineiro.blogspot.com

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