Os setubalenses tal como
os restantes portugueses vão a votos
No
dia 28 de outubro de 1973 acompanhei a minha jovem namorada às antigas
instalações do Convento de Santa Teresa da Ordem de Santo Agostinho, onde
atualmente se encontram as instalações da Polícia Judiciária, no topo nascente
da Praça General Luís Domingues, em Setúbal.
Entramos
numa sala onde três homens com ar solene olharam com ar inquisidor para o barbudo
jovem acompanhante , enquanto ela se dirigia à mesa para depositar na urna o
impresso de voto que teria recebido em casa.
Como
professora do ensino oficial ela recebera o impresso de voto e eu, chegado há
pouco da Guiné, onde cumprira serviço militar obrigatório, olhava para aquela votação
faz-de-conta com certa vontade de rir.
De
facto, as eleições legislativas de 1973 deram a vitória absoluta com 100% dos
deputados “eleitos” à Ação Nacional Popular (afeta ao regime) enquanto o
Movimento Democrático (PCP+PS) desistiram considerando não haver condições para
a realização de eleições livres. Convém dizer que houve ZERO votos em branco e
ZERO votos nulos num universo de 1 393 294 votantes na ANP…
Porque
tinha estado nos últimos dois anos no centro cripto do Quartel General da Guiné
em contacto direto com material classificado e porque aqui chegado comecei a
receber em casa, uns panfletos que anónimos me enviavam dando conta da ação de
movimentos revolucionários em Portugal, apercebia-me que a mudança estaria para
breve.
Poucos
meses depois deu-se a revolução de 25 de abril de 1974 e com ela, as primeiras
eleições verdadeiramente livres ocorridas precisamente um ano depois deste
acontecimento.
Eu
era um jovem técnico de construção civil e servia voluntariamente como chefe de
escuteiros. Senti-me honrado ao ter recebido a notificação para integrar uma
mesa de voto nessas primeiras eleições verdadeiramente livres, sem pertencer a
qualquer partido político.
As
pessoas formavam longas filas para votar, filas que já eram visíveis antes da
hora da abertura das urnas na maior votação de sempre que elegeria os 250
deputados da Assembleia Constituinte.
Desde
essa data até hoje foram muitas e diversas as vezes que fomos chamados a votar
e sempre lá compareci, depositando o meu voto no partido ou na pessoa que em consciência
entendi que melhor serviria os interesses do nosso povo.
Provavelmente
nem sempre fiz a melhor escolha, mas entendo que não escolher seria pior pois
entregaria a minha decisão nas mãos de terceiros, tendo então tomado consciência
depois de tudo o que já vi e vivi que mais vale uma má democracia do que uma
boa ditadura, por isso mesmo eu irei votar no domingo.
Rui
Canas Gaspar
2015-outubro-02
www.troineiro.blogspot.com
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