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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Os setubalenses tal como os restantes portugueses vão a votos

No dia 28 de outubro de 1973 acompanhei a minha jovem namorada às antigas instalações do Convento de Santa Teresa da Ordem de Santo Agostinho, onde atualmente se encontram as instalações da Polícia Judiciária, no topo nascente da Praça General Luís Domingues, em Setúbal.

Entramos numa sala onde três homens com ar solene olharam com ar inquisidor para o barbudo jovem acompanhante , enquanto ela se dirigia à mesa para depositar na urna o impresso de voto que teria recebido em casa.

Como professora do ensino oficial ela recebera o impresso de voto e eu, chegado há pouco da Guiné, onde cumprira serviço militar obrigatório, olhava para aquela votação faz-de-conta com certa vontade de rir.

De facto, as eleições legislativas de 1973 deram a vitória absoluta com 100% dos deputados “eleitos” à Ação Nacional Popular (afeta ao regime) enquanto o Movimento Democrático (PCP+PS) desistiram considerando não haver condições para a realização de eleições livres. Convém dizer que houve ZERO votos em branco e ZERO votos nulos num universo de 1 393 294 votantes na ANP…

Porque tinha estado nos últimos dois anos no centro cripto do Quartel General da Guiné em contacto direto com material classificado e porque aqui chegado comecei a receber em casa, uns panfletos que anónimos me enviavam dando conta da ação de movimentos revolucionários em Portugal, apercebia-me que a mudança estaria para breve.

Poucos meses depois deu-se a revolução de 25 de abril de 1974 e com ela, as primeiras eleições verdadeiramente livres ocorridas precisamente um ano depois deste acontecimento.

Eu era um jovem técnico de construção civil e servia voluntariamente como chefe de escuteiros. Senti-me honrado ao ter recebido a notificação para integrar uma mesa de voto nessas primeiras eleições verdadeiramente livres, sem pertencer a qualquer partido político.

As pessoas formavam longas filas para votar, filas que já eram visíveis antes da hora da abertura das urnas na maior votação de sempre que elegeria os 250 deputados da Assembleia Constituinte.

Desde essa data até hoje foram muitas e diversas as vezes que fomos chamados a votar e sempre lá compareci, depositando o meu voto no partido ou na pessoa que em consciência entendi que melhor serviria os interesses do nosso povo.

Provavelmente nem sempre fiz a melhor escolha, mas entendo que não escolher seria pior pois entregaria a minha decisão nas mãos de terceiros, tendo então tomado consciência depois de tudo o que já vi e vivi que mais vale uma má democracia do que uma boa ditadura, por isso mesmo eu irei votar no domingo.

Rui Canas Gaspar
2015-outubro-02

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