Palácio Botelho Moniz
“Dá Deus nozes a quem não
tem dentes”
O
palácio Botelho Moniz é um dos poucos edifícios do seu género, em Setúbal, que
ainda está ocupado, embora por aquilo que se nos é dado observar o seu estado
de conservação seja bastante precário.
Um
dos mais interessantes pormenores deste palácio é a “Gruta de Santo António”
assim batizada pelo seu proprietário inicial. Ela teria servido de entre outros,
para ritos secretos maçons, sendo esta gruta artificial e seus belos antigos
jardins considerados como um templo pelos membros daquela organização.
As
seguidoras da ordem religiosa, fundada por Madre Teresa de Calcutá, utentes do
palácio, que agora acolhe crianças desprotegidas, opõem-se a qualquer visita a
este espaço, argumentando que o mesmo não apresenta condições de segurança.
Do
exterior, quem está na Rua General Daniel de Sousa, pode observar o estado de degradação dos muros
de proteção que já apresentam profundas fissuras e até alguma parte caída.
Dali,
podemos também ver as sete aberturas/miradouro da “Gruta de Santo António”,
viradas para nascente, orladas com antigas pedras aproveitadas da cascata decorativa
que em tempos existiu no Parque do Bonfim.
O
seu proprietário inicial deu tanta importância à construção desta parte do seu
palácio que, em 15 de junho de 1909, o mesmo foi alvo de uma festa de
inauguração, tendo então remetido aos seus distintos convidados, convites impressos.
Ao
que julgo saber o palácio foi vendido a preço simbólico à Igreja Católica, com
o objetivo de ali alojar a organização das irmãs de Calcutá, tendo mesmo a sua
fundadora vindo aqui a convite do bispo D. Manuel Martins.
Mas
se esta ímpar construção está num estado de conservação preocupante, o facto é
que considero que a mesma poderia estar em muito melhor estado se o seu atual
proprietário tivesse real interesse no imóvel e até quisesse rentabilizar o
espaço.
Para
isso, com o recurso ao mecenato ou a fundos próprios, poderia recuperar pelo
menos a parte dos jardins anexos à “Gruta de Santo António”, dar a esta o seu
antigo brilho e promover visitas públicas ao local a troco de pagamento.
E
seria esta verba que ajudaria não só a manter o espaço, como até a
comparticipar nas despesas com as crianças que se encontram à responsabilidade
da Instituição.
O
nada fazer, implica que de dia para dia o imóvel mais de deteriore e
consequentemente quando se tentar levar a cabo qualquer obra de manutenção
naturalmente que a mesma será mais dispendiosa.
Por
outro lado, não deixa de ser incompreensível, estar aquilo que pode ser uma
ótima fonte de receita e um dos raros exemplares arquitetónicos setubalenses, inacessível
ao público, e praticamente votado ao abandono.
E
como alguém me dizia há algum tempo, quando comentávamos este tema: “Dá Deus
nozes a quem não tem dentes!...”
Rui
Canas Gaspar
2015-outubro-15
www.troineiro.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário