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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Tudo vai mudando e até os mortos setubalenses já não são o que eram…

É uma das mais antigas oficinas de Setúbal, senão mesmo a mais antiga e seguramente a que há mais anos trabalha na sua arte de esculpir a pedra, em terras sadinas.

Fica situada na Avenida Jaime Cortesão, no lado oposto ao cemitério municipal, porém, há cerca de meia centena de anos a oficina ficava localizada no outro lado, mesmo junto ao cemitério.

Desde há aproximadamente um século que os trabalhos de cantaria saídos da oficina de Américo de Oliveira, Lda. fazem companhia aos setubalenses, estejam eles vivos ou mortos.

Sejam as bancadas das nossas cozinhas ou os patins, cobertores e espelhos dos degraus dos nossos prédios, das simples, ou mais elaboradas, moradas dos nossos ente-queridos falecidos, de tudo um pouco tem passado pelas mãos de hábeis canteiros, uma atividade provavelmente em vias de extinção, aqui pelas nossas bandas.

As obras de arte que outrora ali eram esculpidas, deixaram de ser produzidas localmente e hoje chegam-nos vindas do Alentejo, na sua maioria já feitas, com o recurso a máquinas. Longe vão os tempos em que eram esculpidas à mão…

As demais oficinas de canteiros foram encerrando portas e a oficina setubalense ainda se vai mantendo ativa, embora os principais clientes sejam os mortos porque os vivos de momento pouco vão consumindo.

Infelizmente, até os mortos já não são o que eram. São poucos os privilegiados que têm como ultima morada uma elaborada e tradicional sepultura construída em mármore ou granito, daí que as estátuas estejam por vezes mais de um ano expostas na oficina sem serem vendidas.

Para agravar ainda mais a situação, presentemente já não são poucos os que escolhem não repousar os seus restos mortais na terra setubalense, optando pela nova moda de se desfazerem do seu corpo através da incineração e, sendo assim, nem uma singela sepultura construída com simples pedra mármore acaba por ser construída.

E é assim que vamos assistindo, provavelmente, aos últimos dias de uma atividade que durante muitos e muitos anos nos habituamos a conviver e que tal como a incineração está condenada a ser reduzida ao pó.

Rui Canas Gaspar
2014-junho-26

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