A cidade do rio azul não é
a República Dominicana
Mal
entrei naquele local o agradável aroma dá-me vontade de por lá ficar mais tempo
do que o necessário para fazer as compras.
Pelo
forma de falar dos utilizadores daquele espaço reconheço a maioria das pessoas
como setubalenses, embora o sotaque brasileiro e o crioulo cabo-verdiano seja
frequente e assim identifico outro tipo de moradores que a cidade sadina tão
bem acolheu.
É
também curioso verificar a quantidade de turistas que por ali são vistos a
fotografar não só as belas e enormes estátuas oferecidas à cidade pela Fundação
Buehler-Brockaus, alusivas às profissões daquele estabelecimento, mas também apontando
as objetivas das suas máquinas às bancas de verdura, frutas ou do saboroso e
diversificado peixe fresco.
A
vendedora da banca onde estou a comprar os vegetais mostra-se admirada com a
quantidade de gente que hoje, dia seguinte ao primeiro de maio, veio fazer
compras e diz-me: - Está cá muita gente de fora!…
Seguidamente
dirijo-me ao supermercado Pingo Doce, ao lado do Mercado do Livramento, para comprar
outro tipo de produtos que não se encontram à venda no mercado de frescos. Longas
filas em todas as caixas e a operadora por quem sou atendido confidencia-me que
hoje está muita gente de fora, confirmando assim o que já ouvira no mercado.
Não
sei de onde apareceram tantos forasteiros, mas lá que eles estão cá isso estão.
Venham eles nas autocaravanas que este ano “descobriram” Setúbal, estejam em
casas no outro lado do rio, em Troia, apenas de passagem, em casa de familiares
ou amigos, não faço ideia…
Ontem,
primeiro de maio, na minha volta pelo Parque Urbano de Albarquel, a determinada
parte do percurso o mesmo encontrava-se obstruído por um grupo de oito adultos,
homens e mulheres, que caminhavam lentamente. Como caminhava logo atrás tive
oportunidade de naturalmente escutar parte da sua conversa.
Pela
pronúncia notava-se que era pessoal do Norte, das bandas do Porto, Gaia ou
Matozinhos. Tudo admiravam e comentavam elogiosamente, desde os lindos tufos de
arbustos floridos, aos espaços relvados, às zonas de aparelhos de ginástica, ao
rio azul, ao “calçadão” e mostraram-se agradavelmente surpreendidos com o
espaço destinado à zona de merendas, com os seus protetores de sol feitos em matéria
natural como usado nos países tropicais.
E
foi aqui que uma das senhoras, visivelmente agradada com tudo o que via,
desabafou: - Parece que estamos na Republica Dominicana, e isto não se fica
nada atrás!...
Bem,
cada um gosta do que gosta, as afirmações valem o que valem, mas não há duvida
que Setúbal está como nunca antes se viu. Muito mais agradável e com muito mais
pontos de interesse, sendo o expoente máximo a devolução do seu rio azul ao
usufruto da cidade.
De
facto, muito ainda há por fazer, mas “Roma e Pavia não se fizeram num dia” e,
goste-se ou não, nestes últimos anos a cidade sadina mudou imenso.
Nós que cá estamos podemos não nos aperceber, mas aqueles que nos visitam, ou aqueles que tendo por cá nascido ou residido retornem para nos visitar, passado meia dúzia de anos, são dessa opinião.
Nós que cá estamos podemos não nos aperceber, mas aqueles que nos visitam, ou aqueles que tendo por cá nascido ou residido retornem para nos visitar, passado meia dúzia de anos, são dessa opinião.
Esta
é uma cidade com vida própria, com um amplo tecido industrial, é uma cidade marítima
mas que já não vive da pesca, o turismo é um importante polo a explorar a par
de outros pontos de interesse, uma cidade de enorme potencial.
Saibam
os setubalenses e seus governantes, nascidos ou não aqui, reconhecer e
acarinhar a cidade que temos, desenvolvendo as potencialidades que estão ao
nosso alcance.
É
meu desejo e minha esperança que um dia ainda possa ver a minha terra não como
a Republica Dominicana, mas sim igual a si mesma, a cidade do rio azul, uma potência
turística internacional por mérito próprio.
Rui Canas Gaspar
2014-maio-02
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