Eu tive parte do tesouro
de Troino
Em
Setúbal, no dia 20 de maio de 1957, os trabalhadores esforçavam-se manipulando
enxadas, pás e picaretas abrindo a vala ao longo da Rua Fran Pacheco, antiga
Rua Direita de Troino, para ali colocarem as manilhas que iria permitir àquela
antiga artéria da cidade dotar-se do necessário saneamento básico.
Conjuntamente
com a terra que retiravam da vala vinha um pouco de tudo, sobretudo pedaços de
cerâmica e até ossadas humanas, atendendo a que as escavações decorriam
relativamente perto da antiga Igreja da Anunciada, na Praça Teófilo Braga.
Não
é de admirar que se encontrassem muitos vestígios de épocas passadas, até
porque a cidade teria sofrido três fortes terramotos em 1531, 1755 e 1858 que a
teriam afetado profundamente, destruindo muitas das suas edificações.
A
determinado momento dos trabalhos a picareta de um operário bateu num objeto de
barro, destruindo-o e, do seu interior verteu uma torrente de pequenas moedas
de bronze. Tratava-se de uma ânfora romana contendo milhares de moedas.
O
insólito achado causou natural burburinho com toda a gente a querer apossar-se
de moedas. Eram miúdos e graúdos a tentar deitar a mão a tantas quantas
pudessem levar. Houve até quem emprestasse uma alcofa a um conhecido
colecionador que residia ali perto para transportar uma enorme quantidade.
A
notícia chegou às autoridades e da primeira esquadra saiu correndo um polícia
que soprando o seu apito mandava sair daquele local todos que não fossem
trabalhadores.
Uma
segunda ânfora seria então descoberta contendo 7.090 moedas, enquanto da
primeira foram oficialmente contabilizadas 11.091. As moedas seriam então
recolhidas e encontram-se em exposição no Museu da Cidade de Setúbal.
O
tesouro é composto por moedas de bronze, cunhadas entre 253 e 363 d.C. à
exceção de uma moeda republicana cunhada entre 187 e 155 a.C.
Alguns
outros milhares de moedas foram levadas pelos populares antes da chegada das
autoridades, pelo que o tesouro romano encontrado na Rua Direita de Troino
continha muito mais peças do que aquelas que são oficialmente mencionadas.
Eu
tinha nove aninhos, também lá estive com outras crianças de Troino e também
trouxe uma parte do tesouro romano. A mim calhou-me, imagine-se, uma moeda.
Rui Canas Gaspar
2014-outubro-13
www.troineiro.blogspot.com
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