Há setubalenses e “setubalenses”
Quando
no início dos anos setenta do passado século XX a população sadina começou a
ter um maior poder de compra, fruto de um conjunto de indústrias que se vieram
implantar na península de Setúbal, começou a ser comum as grávidas da classe
média irem dar à luz em clinicas da capital.
Não
é pois de admirar que muitos homens e mulheres, ditos setubalenses e filhos de
gente nascida em terras sadinas, tenham como naturalidade Lisboa.
Tal
como minha esposa, lembro-me bem dos reparos que nos foram feitos por alguns
amigos, sendo eu então um técnico de construção civil e minha esposa uma
professora do ensino público pelo facto dos nossos filhos irem ser dados à luz em
Setúbal, no Hospital de São Bernardo, quando poderiam nascer numa qualquer
clinica da capital, a que muitos “novos ricos” atribuíam melhores condições.
Vem
isto a propósito de uma recente troca de opiniões com alguns amigos sobre a nossa
terra que embora tivesse crescido em número de habitantes, tivesse perdido
importância no quadro nas cidades portuguesas por ter vindo a ser governada por
gente que não é de cá.
Refletindo
um pouco sobre o assunto, dá para questionar sobre se é mais setubalense aquele
que nasceu aqui e pouco ou nada fez pela sua terra ou se aquele que não tendo nascido
em Setúbal se notabilizou e, com a sua ação, ajudou os setubalenses a
progredirem e a terem melhor qualidade de vida.
De
direito é setubalense aquele que nasceu em Setúbal, embora no dia seguinte
daqui tivesse partido e nunca mais cá voltasse. De facto, quanto a mim, é
setubalense todo aquele que embora não tivesse aqui nascido optou por se
radicar nesta terra, trabalhando e dando o seu contributo para o
desenvolvimento da mesma fosse no campo profissional, desportivo, religioso,
social ou outro qualquer.
Quando
dou por mim a refletir sobre este assunto vem-me sempre à mente uma curiosa
saudação de um antigo chefe escuteiro. Dizia ele: “ Há chefes que são chefes e
que não deviam ser chefes e há chefes que não são chefes e que deviam ser
chefes” É claro que se eu substituir os “chefes” por “setubalenses” talvez a
saudação se pudesse adaptar na perfeição a muitos ditos setubalenses que se
julgam mais do que os outros que por cá não nasceram.
Rui
Canas Gaspar
2014-outubro-09
www.troineiro.blogspot.com
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