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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Há setubalenses e “setubalenses”

Quando no início dos anos setenta do passado século XX a população sadina começou a ter um maior poder de compra, fruto de um conjunto de indústrias que se vieram implantar na península de Setúbal, começou a ser comum as grávidas da classe média irem dar à luz em clinicas da capital.

Não é pois de admirar que muitos homens e mulheres, ditos setubalenses e filhos de gente nascida em terras sadinas, tenham como naturalidade Lisboa.

Tal como minha esposa, lembro-me bem dos reparos que nos foram feitos por alguns amigos, sendo eu então um técnico de construção civil e minha esposa uma professora do ensino público pelo facto dos nossos filhos irem ser dados à luz em Setúbal, no Hospital de São Bernardo, quando poderiam nascer numa qualquer clinica da capital, a que muitos “novos ricos” atribuíam melhores condições.

Vem isto a propósito de uma recente troca de opiniões com alguns amigos sobre a nossa terra que embora tivesse crescido em número de habitantes, tivesse perdido importância no quadro nas cidades portuguesas por ter vindo a ser governada por gente que não é de cá.

Refletindo um pouco sobre o assunto, dá para questionar sobre se é mais setubalense aquele que nasceu aqui e pouco ou nada fez pela sua terra ou se aquele que não tendo nascido em Setúbal se notabilizou e, com a sua ação, ajudou os setubalenses a progredirem e a terem melhor qualidade de vida.

De direito é setubalense aquele que nasceu em Setúbal, embora no dia seguinte daqui tivesse partido e nunca mais cá voltasse. De facto, quanto a mim, é setubalense todo aquele que embora não tivesse aqui nascido optou por se radicar nesta terra, trabalhando e dando o seu contributo para o desenvolvimento da mesma fosse no campo profissional, desportivo, religioso, social ou outro qualquer.

Quando dou por mim a refletir sobre este assunto vem-me sempre à mente uma curiosa saudação de um antigo chefe escuteiro. Dizia ele: “ Há chefes que são chefes e que não deviam ser chefes e há chefes que não são chefes e que deviam ser chefes” É claro que se eu substituir os “chefes” por “setubalenses” talvez a saudação se pudesse adaptar na perfeição a muitos ditos setubalenses que se julgam mais do que os outros que por cá não nasceram.

Rui Canas Gaspar
2014-outubro-09

www.troineiro.blogspot.com

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