A velha porta da Rua das
Oliveiras
Por
esta velha e cansada porta, entraram rijos e honestos pescadores, operárias
conserveiras, gente humilde, gente boa que souberam criar os seus filhos como
pessoas de bem e dar-lhes o melhor que podiam naqueles tempos difíceis
sobretudo na época de defeso da pesca da sardinha.
Em
pleno Bairro de Troino, ela ainda lá se mantém, com a sua mãozinha onde outras
pequenas mãozinhas seguraram para a encostar, no tempo em que não era
necessário fechar e onde as portas das casas estavam igualmente encostadas.
Era
um tempo em que os vizinhos funcionavam como se de uma grande família se
tratasse, em que os rapazes vinham jogar à bola para a rua, que parecia bem
mais larga e onde nas noites quentes de Verão se sentavam à porta conversando e
convivendo.
Tempos
felizes, tempos diferentes em que as pessoas se contentavam com pouco,
naturalmente porque não conheciam o muito. Porém, se os bens materiais eram
escassos, a solidariedade era por demais abundante.
Num
daqueles cinzentos dias de Inverno parte da muralha que circundava a cidade
abateu-se sobre o prédio a que pertence esta velha porta e logo a vizinha da
frente, D. Dora, ofereceu os seus préstimos e as instalações de sua própria
casa para ali guardar os parcos haveres enquanto não se arranjasse nova
habitação.
Que
maravilhosos pensamentos, que gratas recordações guardo desta velha porta, da sua
vetusta mãozinha de ferro que ainda lá está e onde a minha pequena mãozinha
tantas vezes segurou já lá vão algumas dezenas de anos.
Num
destes dias fiz questão de ir mostrar ao meu pequeno neto o Bairro de Troino
onde nasci, a Rua das Oliveiras onde pela primeira vez vi a luz do dia e
contar-lhe as estórias do seu avô e dos seus antigos amigos e vizinhos quando
tinha a sua idade e entrava por esta velha porta que tantas boas memórias me
fez vir à mente.
São
coisas de Setúbal, que nos marcam para toda a vida e que vamos partilhando com
os amigos naturais e virtuais, agora que temos à nossa disposição esta poderosa
ferramenta que há alguns anos era para nós impensável, a internet.
Rui
Canas Gaspar
2015-agosto-01
www.troineiro.blogspot.com
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