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sábado, 1 de agosto de 2015

Porquê Carlos Relvas como nome da praça de toiros setubalense?
Os espetáculos tauromáquicos em Setúbal têm longa tradição, pelo que aqui foi construído e inaugurado no dia 15 de setembro de 1889 um edifício próprio destinado a este tipo de evento.
À praça de touros, construída de forma octogonal, como era uso corrente na época, dispondo de mais de 4.000 lugares, devido à sua volumetria e importância social seria atribuída o nome do monarca português D. Carlos.
Após a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, o importante edifício viu ser substituída a sua régia identificação pela plebeia denominação de “Praça de Touros Carlos Relvas”.
Os republicanos mudaram o nome ao espaço, porém, ou por se terem esquecido, não terem reparado no pormenor, ou seja lá por que motivo fosse o facto é que a designação inicial ainda hoje ali se mantém num artístico trabalho em ferro que encima a sua entrada principal.
Mas afinal quem foi Carlos Relvas o homem que veio dar nome a este espaço inicialmente batizado como Praça D. Carlos?
Carlos Augusto Mascarenhas Relvas de Campos foi um abastado lavrador, desportista e fotógrafo português nascido na Golegã em 13 de novembro de 1838 e que viria a falecer em 23 de janeiro de 1894.
Embora ficasse mais conhecido no país e no estrangeiro devido às suas atividades como fotógrafo amador, Carlos Relvas, foi também um exímio cavaleiro e toureiro amador, jogador de pau e atirador de carabina e pistola.
Membro da Sociedade Francesa de Fotografia teve trabalhos publicados nas revistas “O Ocidente”, “Branco e Negro” e “Boletim Fotográfico”.
Foi casado em primeiras núpcias com D. Margarida Amália Mendes de Azevedo e Vasconcelos senhora que lhe daria quatro filhos, entre os quais se destacou como figura pública o político republicano José Relvas.
Este político, nascido na Golegã, foi aquele que foi escolhido para proclamar a implantação da República, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, atendendo a que era um dos elementos mais antigos do Diretório do Partido Republicano.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” já dizia o grande poeta Luís Vaz de Camões. O que nunca poderei perceber é o porquê de ter sido mudada uma designação inicial mais condizente com a vontade dos seus promotores e o espírito da época em que a praça foi edificada, por um nome que nada tem a ver com os setubalenses, nem sequer ser figura de destaque no mundo tauromáquico, sem desprimor para os seus dotes artísticos.
“Cheira-me” que aqui houve o dedo político do seu famoso filho que assim viu perpetuada numa obra para a qual não se consta que ele ou sua família tenham contribuído. Uma ardilosa forma de honrar o nome do seu abastado pai. Ao menos se fosse o seu nome, ainda poderia ser compreensível, atendendo ao seu destaque na implantação da Republica, agora o nome do pai!?...
Mal por mal, ainda bem que lá ficou gravado na entrada principal esquecido, ou não, a primitiva designação da praça de toiros setubalense, o nome de Praça D. Carlos.
Rui Canas Gaspar
2015-agosto-01

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