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quarta-feira, 19 de março de 2014

Gato escondido com o rabo de fora

Após encontrar um antigo documento pertencente a minha falecida mãe, dei comigo a pensar nas contradições  dos políticos e governantes que fazem de nós governados pouco mais que meros joguetes das suas vontades.

Eu, tal como muitos milhares de portugueses doamos OBRIGATÓRIAMENTE mais de três anos das nossas jovens vidas na “defesa” da Pátria, preparando-me aqui durante 12 meses e depois tendo sido enviado para a Guiné, onde durante mais 27 meses servi o meu país na tal “defesa” de uma das nossas “províncias” ultramarinas.

Pouco tempo depois de eu ter embarcado para a Guiné, meus pais venderam todos os seus parcos haveres e deixaram a província da Estremadura, mais concretamente a Setúbal que os viu nascer, crescer, casar e ter os seus filhos, para rumar a outra província, a de Angola, indo radicar-se noutra cidade portuguesa, a de Luanda.

Se aqui ele era pescador, lá também o continuou a ser, a diferença residia no facto de aqui o peixe escassear e não se ganhar para as despesas e lá o peixe abundar e ganhar o suficiente para fazer uma vida desafogada.

Com o revolução de 25 de Abril e a eminente independência daquele território os movimentos independentistas digladiavam-se entre eles, o Exército Português deixou de ter “força”, o banditismo alastrou em Luanda e o meu jovem irmão foi atacado, salvando-se porque na altura era um medalhado atleta do Benfica de Luanda e conseguiu ser suficientemente rápido para fugir aos assaltantes.

De imediato os meus pais tomaram a decisão de deixar aquela “província” ultramarina e rumar de novo a Setúbal e, tal como foram daqui para lá, assim  vieram de lá para aqui. Se foram pobres, pobres vieram. A riqueza que trouxeram consigo foi a de uma maior experiencia de vida.

Mas o que me levou a pensar neste assunto, foi o tal documento que eu falei no princípio do texto, que mais não é do que um Certificado de Residência passado pela Administração Local a todos os portugueses  que fossem trabalhar e residir para aquela “província” tal como se faz a qualquer cidadão emigrante.

Afinal aquilo era ou não uma província? Se não era necessário Certificado de Residência se eles se mudassem da Estremadura para o Algarve porque carga de água é que o deveria ser quando se mudaram para a “província” de Angola?

De facto, a arte da política que deveria ser uma nobre arte tem uns agentes um bocado esquisitos, fazem leis e tentam impingir ao povo os seus interesses, no entanto regra geral não são assim tão inteligentes como se julgam, porque regra geral são como o gato escondido com o rabo de fora…

Rui Canas Gaspar

2014-março-19

1 comentário:

  1. Era uma província sim senhor. Mas, além-mar e por conseguinte, o Certificado de Residência era uma maneira de controlar quem estava nessa mesma província.
    Cordialmente,
    Nuno Ramos.

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