notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Geração de ouro

Estava a almoçar com o meu irmão e meu pai uns deliciosos e frescos alcorrazes grelhados quando na televisão, onde passava o telejornal da TVI, reparamos num rosto nosso conhecido, o José Miguel Nogueira, sociólogo, que na Fundação Gulbenkian apresentava um estudo feito por si sobre as famílias com crianças e jovens autistas.

O Zé Miguel foi escuteiro do C.N.E., no Agrupamento 62 (Ordem Terceira) em Setúbal, e o seu aparecimento no pequeno écran foi motivo para uma nova conversa, entre mim e o Orlando, recordando os anos entre 1975 e 1980 quando por aquele Agrupamento passaram cerca de 200 rapazes e raparigas, hoje homens e mulheres.

E foi num exercício de memória em que ia escrevendo o nome daqueles que nos íamos lembrando que inscrevemos mais de meia centena com as mais diversas atividades profissionais de topo, alguns com elevadas responsabilidades a nível local, nacional e internacional, no campo das artes, ciência, finanças, etc. e onde até não faltam dois oficiais superiores da Força Aérea Portuguesa.

Num tão reduzido grupo de jovens, aberto a todos sem restrições de classes sociais e onde num tão curto espaço de tempo se conseguem formar um tão elevado numero de quadros de topo, numa altura em que se viviam fortes convulsões sociais e politicas não deixa de ser curioso tentar perceber o porquê deste sucesso.

Naquele conturbado período revolucionário, este Agrupamento funcionava para a Região de Setúbal como uma espécie de tropa de choque, era a ele que os Serviços Regionais recorriam com maior frequência, fosse na animação de grandes atividades, fosse na representação da Região, fosse até como modelos na forma de fardamento, numa altura tão propícia ao desleixo na questão de uniformização.

Foi também este o Agrupamento “cobaia” para a introdução do escutismo feminino no C.N.E. de que a Região de Setúbal teve ação destacadíssima a nível nacional.

E foi deste formidável grupo de rapazes e moças, que viveram o Escutismo de alma e coração, num Agrupamento onde a sede estava aberta todos os dias e onde até o mais alto responsável pela Região Pastoral, D. João Alves (posteriormente bispo de Coimbra) e o seu sucessor D. Manuel Martins, o primeiro bispo de Setúbal, gostavam de ir dar dois dedos de conversa com os rapazes e moças mais velhos, que saíram tão grande quantidade de altos quadros dirigentes respeitados e ouvidos na sociedade portuguesa.

Praticamente todos estes antigos rapazes e moças mantêm vivo o espírito escutista que os formou e ainda hoje é grande a alegria e solidariedade que demonstram sempre que se encontram. Uma prova insofismável de que o método escutista quando aplicado corretamente e vivido intensamente produz os melhores e mais deliciosas frutos.

Rui Canas Gaspar

2014-abril-03

Sem comentários:

Enviar um comentário