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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Conhecem a “Rua dos Mestres” ?

Embora o local ficasse na zona do meu nascimento, o facto é que desde há muito tempo por ali não passava a pé e como tal não o apreciava com algum pormenor. Por isso mesmo, dei comigo a ficar surpreendido quando ao parar para olhar para a placa toponímica com a indicação de Rua dos Carmelitas, verifiquei que se tratavam de umas escadas que venceriam um pequeno outeiro.

O curioso é que esta estranha rua, ali bem perto da Igreja da Anunciada, com uma largura na ordem dos 5 metros está interrompida a meio por uma alta grade metálica, porquanto ela não teria seguimento e como tal, já lá vão algumas dezenas de anos, os moradores solicitaram o seu encerramento à autarquia, transformando assim um espaço público numa espécie de condomínio fechado, só ali entrando os moradores locais.

Não é caso único em Setúbal, conheço pelo menos mais três situações idênticas, na zona da baixa, porém em espaços de menores dimensões.

Mas o mais curioso é que ao falar neste assunto com o meu pai fiquei a conhecer outro interessante pormenor. É que aquela rua, quando ainda por lá não existia o tal gradeamento, era conhecida entre as gentes de Troino como a “Rua dos Mestres” por ali residirem vários destes profissionais.

Nessa altura aqueles habitantes conheciam as ruas da baixa pelas suas antigas denominações, tais como: Rua dos Ourives, dos Almocreves, dos Sapateiros, dos Caldeireiros, etc. etc. mas em nenhuma artéria da cidade se fazia então referência aos profissionais responsáveis pelas embarcações da pesca costeira, os tais mestres.

Os mestres de pesca eram pessoas importantes entre as gentes de Troino, eram os que mais ganhavam e daí o seu estatuto privilegiado.

Nas embarcações o aviso de partida era, por exemplo, dado para as 21,00 horas, os camaradas chegavam com antecedência e o mestre era o último a chegar e a dar as ordens de largar amarras para o barco sair para a pesca.

Se o vento mudava e se verificava que poderia vir tempestade, um dos camaradas logo corria a avisar o mestre que em sua casa ditava as ordens, de saída ou não, do seu barco para a faina.

E foi em torno destas memórias de vivências com mais de meio século que a conversa desta tarde se desenrolou entre mim o meu pai e meu irmão, três troineiros que partilharam boas memórias destas curiosas coisas de Setúbal e onde tive oportunidade de aprender que afinal aqui na nossa terra teria havido uma tal “Rua dos Mestres”.

Rui Canas Gaspar
2015-fevereiro-06

www.troineiro.blogspot.com

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