Conhecem a “Rua dos
Mestres” ?
Embora
o local ficasse na zona do meu nascimento, o facto é que desde há muito tempo
por ali não passava a pé e como tal não o apreciava com algum pormenor. Por
isso mesmo, dei comigo a ficar surpreendido quando ao parar para olhar para a
placa toponímica com a indicação de Rua dos Carmelitas, verifiquei que se
tratavam de umas escadas que venceriam um pequeno outeiro.
O
curioso é que esta estranha rua, ali bem perto da Igreja da Anunciada, com uma
largura na ordem dos 5 metros está interrompida a meio por uma alta grade
metálica, porquanto ela não teria seguimento e como tal, já lá vão algumas
dezenas de anos, os moradores solicitaram o seu encerramento à autarquia,
transformando assim um espaço público numa espécie de condomínio fechado, só
ali entrando os moradores locais.
Não
é caso único em Setúbal, conheço pelo menos mais três situações idênticas, na
zona da baixa, porém em espaços de menores dimensões.
Mas
o mais curioso é que ao falar neste assunto com o meu pai fiquei a conhecer
outro interessante pormenor. É que aquela rua, quando ainda por lá não existia
o tal gradeamento, era conhecida entre as gentes de Troino como a “Rua dos
Mestres” por ali residirem vários destes profissionais.
Nessa
altura aqueles habitantes conheciam as ruas da baixa pelas suas antigas
denominações, tais como: Rua dos Ourives, dos Almocreves, dos Sapateiros, dos
Caldeireiros, etc. etc. mas em nenhuma artéria da cidade se fazia então
referência aos profissionais responsáveis pelas embarcações da pesca costeira,
os tais mestres.
Os
mestres de pesca eram pessoas importantes entre as gentes de Troino, eram os
que mais ganhavam e daí o seu estatuto privilegiado.
Nas
embarcações o aviso de partida era, por exemplo, dado para as 21,00 horas, os
camaradas chegavam com antecedência e o mestre era o último a chegar e a dar as
ordens de largar amarras para o barco sair para a pesca.
Se
o vento mudava e se verificava que poderia vir tempestade, um dos camaradas
logo corria a avisar o mestre que em sua casa ditava as ordens, de saída ou não,
do seu barco para a faina.
E
foi em torno destas memórias de vivências com mais de meio século que a
conversa desta tarde se desenrolou entre mim o meu pai e meu irmão, três
troineiros que partilharam boas memórias destas curiosas coisas de Setúbal e
onde tive oportunidade de aprender que afinal aqui na nossa terra teria havido
uma tal “Rua dos Mestres”.
Rui
Canas Gaspar
2015-fevereiro-06
www.troineiro.blogspot.com
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