Memórias da Feira de Santiago
AS RIFAS
A mais antiga
recordação que guardo da Feira de Santiago é aquela que se prende com a imagem
de Nossa Senhora de Fátima, feita em barro e pintada de branco que trouxe para
casa sem ter despendido qualquer verba.
Deveria ter uns oito
ou nove aninhos quando ao final da tarde desci da Rua das Oliveiras, onde
morava, e vim até à feira.
Fascinava-me sempre,
até porque não tinha dinheiro para aquele luxo, as barracas onde se tentava a
sorte, e, ao puxar um cordel saía, ou não, um daqueles vistosos prémios que se
encontrava exposto.
Naquele dia um homem
estava a tentar a sua sorte num desses espaços, sem que fosse bafejado pela
sorte.
Aproximei-me e disse-lhe:
- Agora vai sair-lhe um prémio!
O homem olhou para
mim, deve ter achado piada e respondeu que se tal acontecesse me daria o que
lhe saísse.
A feirante
entregou-lhe o molhe de cordéis e o homem puxou um deles, aquele precisamente
correspondente à imagem que me viria a entregar e que orgulhosamente levei da
Feira de Santiago para o meu Bairro de Troino.
Os anos passaram, já
casado, não deixei de ir todos os anos até à Avenida Luísa Todi, passear na
Feira de Santiago e, vamos lá nós saber porquê, a minha atração pelos tais
stands da sorte pelos vistos manteve-se.
Agora, mais
modernizadas as tais barraquinhas já tinham uma roda de bicicleta com uma
patilha que depois de várias voltas parava num determinado número, precisamente
aquele que eu tinha adquirido.
E, foi desta forma,
que trouxe o primeiro triciclo para o meu filho, a arca frigorífica de
piquenique, a tábua de passar a ferro, o grelhador elétrico e uma quantidade de
artigos variados, até que perdi o interesse pela barraquinha quando verifiquei
que o que lá tinha para sortear já não me interessava.
Todos os anos esta
minha atração pela barraca da sorte e a atração dos prémios pela minha pessoa era
motivo de risota, com a minha família e um casal amigo.
Mas, não se pense que
ficava ali a noite a jogar, apenas comprava uma rifa uma vez por ano e para meu
grande prazer raramente não me saía o principal prémio.
Saídos dali íamos
comprar uma fartura e depois comíamos saboreando-a com um copo de moscatel da
Sivipa, que quase sempre tinha o seu stand na tradicional Feira de Santiago.
Rui Canas Gaspar
2016-maio-02
www.troineiro.blogspot.com
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