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domingo, 11 de junho de 2017

A Novela Portuguesa pelo chão de uma rua setubalense 

No chão junto ao passeio encontrava-se uma pequena folha de papel, datada de 15 de janeiro de 1921, que já tinha sido pisada por mais do que uma vez, tendo-me despertado a atenção pelo que me baixei para a apanhar. 

As duas crianças que estavam comigo ficaram admiradas com o que viam mas tive então oportunidade de lhes explicar que aquela folha fazia parte de uma pequena revista com quase cem anos e certamente fora lida pelos pais dos seus avós. 

Aqui em Setúbal, no nosso velhinho Bairro de Troino algumas senhoras alugavam as revistas, porque o dinheiro para as comprar era escasso e liam-nas à noite, à luz dos candeeiros a petróleo. Faziam-no muitas vezes não só para elas mas também para os outros que se juntavam à sua volta e não sabiam ler porque não tinham tido tempo para ir à escola. 

Era o tempo em que não havia televisão e as telefonias eram um bem raro e mesmo estas singelas revistas eram quase um luxo, porém muito procuradas. 

Anos mais tarde um setubalense de sucesso, começaria a ganhar dinheiro transportando muitas delas e alugando-as por toda a cidade, fazia-se transportar numa mota, por isso ficou conhecido pela alcunha de Zé da Mota, de seu nome José Eduardo Martins, homem educado e empreendedor com quem tive oportunidade de privar. 

Esta folha de papel que por ali fui encontrar no chão da nossa cidade quantas histórias poderia contar? Por quantas mãos teria passado? Quantos risos e lágrimas as restantes páginas que a compunham originaram? 

Não tenho respostas para estas questões, mas a velha folha de papel fez-me retroceder àqueles tempos de fome e de miséria quando em Setúbal o dinheiro não chegava para comprar uma simples revista. 

Rui Canas Gaspar
2017-junho-11

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