O nosso Rio Sado em Porto Rei
Já
foi local de embarque e desembarque de gente do povo, abastados lavradores ou
até de importantes figuras da realeza que ali chegaram ou dali partiram a caminho do
palácio de Vila Viçosa.
Já
foi palco de volumosas cargas de cereais oriundos do Alentejo que depois vinham
destinados aos moinhos que os transformavam em farinha para produzir o pão que alimentava
as populações residentes nas localidades do litoral.
Já
foi o ponto onde até o Rio Sado era navegável e ali chegou a ser local de embarque
e desembarque de carreiras fluviais.
Por
isso mesmo, naquele local foi construída uma boa casa apalaçada e brasonada bem
como escadarias em pedra no seu cais de embarque junto ao rio.
Andei
quilómetros e quilómetros para descobrir este local, e finalmente dei com ele,
porém para meu espanto o rio tinha desaparecido, as águas que outrora permitiam
a navegação de grandes barcos tinham dali sumido, e até o cais deve lá estar
mas não consegui descortina-lo devido ao intenso matagal em que a outrora
margem se transformou.
Apenas
por ali se pode observar, só e triste o que resta da escadaria que já não
conduz a lugar nenhum.
Entrei
com muito cuidado e percorri o que resta das antigas instalações onde o
silêncio impera e que agora se resume a algo abandonado à sua sorte à espera
que o tempo lhe dite a sentença final.
Assim
é Porto Rei, ou Del Rey, conforme a época em que o relato seja feito, o porto
mais a montante do Rio Sado, um importante curso de água que deixou de correr e
morre solitário e triste quase sem se falar no assunto.
Dediquei
com muito entusiasmo alguns meses a descobrir o nosso Sado. Percorri várias centenas de quilómetros para
ver e escutar e, em breve, vou partilhar muitas das suas histórias, lendas, e
entrevistas com pessoas que retiraram o seu sustento das suas águas ou que
simplesmente gostam dele.
Dei
ao livro o simples nome de “SADO”, mas poderia dar-lhe a sugestiva e agradável designação
de “Rio Azul” ou a tristonha: “Um rio moribundo”.
Provavelmente
vai gostar de ir ver com seus próprios olhos o que eu vi, ou caso não o possa fazer
pelo menos ficar a saber aquilo que eu observei.
Rui
Canas Gaspar
2017-junho-15
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