Mais valia ter havido um
mau acordo do que aquela boa demanda
O
dia invernoso apresentava-se com o céu plúmbeo quando entrei naquele silencioso
e vasto espaço. Parecia que estava a ser constantemente observado por enigmáticos
seres fantasmagóricos. Porém, por ali não via ninguém!...
Na
minha mente ecoava a trágica marcha fúnebre de Frédéric Chopin enquanto
caminhava, explorando todos os recantos, procurando evitar fazer algum pequeno
ruído que fosse.
Outrora
por ali brincaram e correram alegremente muitas crianças. Adultos deliciaram-se
em alegres convívios e muitos amantes da natureza saborearam a paz de espírito
que a Arrábida proporciona e o rio azul oferece.
O
rústico parque infantil encontra-se agora sem as normais correrias e o característico
alegre chilrear das crianças. Os balancés estão quietos e pelo escorrega nenhum
menino ou menina vai poder descer rapidamente. Homens ruins roubaram a chapa
por onde o podiam fazer…
Apenas
a memória olfativa recorda-nos o agradável cheiro da carne ou peixe a grelhar
nos muitos espaços construídos para o efeito que por ali existiam. Mas, embora
seja hora de almoço, os fogareiros desde há muito que deixaram de ser acesos.
As
diversas instalações de apoio encontram-se de portas escancaradas, no seu
interior tudo o que era fio de cobre, aparelhagem elétrica, torneiras e metais pura
e simplesmente sumiram.
Documentos
que outrora serviram de registo aos utilizadores daquele agradável espaço
encontram-se agora espalhados pelo chão da que foi a receção deste frequentado
espaço lúdico.
Por
todo este vasto parque, localizado num espaço privilegiado pela natureza, impera
o silêncio e a destruição.
Se
outrora as coisas não correram bem entre a entidade que explorava este belo
espaço e a que tinha a tutela melhor seria terem chegado a um acordo. Como tal
fosse inviabilizado veio a ordem de despejo e pouco depois o anúncio de que a
Câmara Municipal de Setúbal iria assumir a exploração.
Entretanto,
tudo foi fechado a sete chaves e esperou-se por nova gestão que tarda em
aparecer.
O
tempo passou, aquilo que estava fechado, sem qualquer guarda foi fácil abrir e
daí ao furto e à destruição foi apenas um pequeno passo.
Caminho
por entre as árvores despidas de folhas e entre os alvéolos onde já não estão
as tendas montadas, pensando e repensando se não seria melhor terem chegado a
um mau acordo do que a esta boa demanda.
Setubalenses
e quem nos visita ficaram privados do seu Parque de Campismo do Outão, uma
estrutura que para ser reativada necessitará de muitos, mas mesmo muitos
milhares de euros, graças à inabilidade de quem geriu este processo,
transformando assim um belo e ativo espaço numa zona triste e sem vida,
deixando-me triste.
Depois
de ter captado algumas dezenas de imagens, enceto o caminho de regresso a casa pela
bela estrada marginal ao rio azul que hoje se apresenta cinzento, tal como a
musica que não me sai da mente, a marcha fúnebre de Chopin como se de um réquiem
pelo Parque de Campismo do Outão se tratasse.
Rui
Canas Gaspar
2016-janeiro-14
www.troineiro.blogspot.com
Olá , Rui, a meu ver a administração pública não quer administrar o Camping porque acha que não irá ganhar o suficiente. Por outro lado, se alguém da iniciativa privada administrar o Camping, eles irão cobrar preços que iriam espantar até a Rainha do United Kingdom.
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