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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Mais valia ter havido um mau acordo do que aquela boa demanda

O dia invernoso apresentava-se com o céu plúmbeo quando entrei naquele silencioso e vasto espaço. Parecia que estava a ser constantemente observado por enigmáticos seres fantasmagóricos. Porém, por ali não via ninguém!...

Na minha mente ecoava a trágica marcha fúnebre de Frédéric Chopin enquanto caminhava, explorando todos os recantos, procurando evitar fazer algum pequeno ruído que fosse.

Outrora por ali brincaram e correram alegremente muitas crianças. Adultos deliciaram-se em alegres convívios e muitos amantes da natureza saborearam a paz de espírito que a Arrábida proporciona e o rio azul oferece.

O rústico parque infantil encontra-se agora sem as normais correrias e o característico alegre chilrear das crianças. Os balancés estão quietos e pelo escorrega nenhum menino ou menina vai poder descer rapidamente. Homens ruins roubaram a chapa por onde o podiam fazer…

Apenas a memória olfativa recorda-nos o agradável cheiro da carne ou peixe a grelhar nos muitos espaços construídos para o efeito que por ali existiam. Mas, embora seja hora de almoço, os fogareiros desde há muito que deixaram de ser acesos.

As diversas instalações de apoio encontram-se de portas escancaradas, no seu interior tudo o que era fio de cobre, aparelhagem elétrica, torneiras e metais pura e simplesmente sumiram.

Documentos que outrora serviram de registo aos utilizadores daquele agradável espaço encontram-se agora espalhados pelo chão da que foi a receção deste frequentado espaço lúdico.

Por todo este vasto parque, localizado num espaço privilegiado pela natureza, impera o silêncio e a destruição.

Se outrora as coisas não correram bem entre a entidade que explorava este belo espaço e a que tinha a tutela melhor seria terem chegado a um acordo. Como tal fosse inviabilizado veio a ordem de despejo e pouco depois o anúncio de que a Câmara Municipal de Setúbal iria assumir a exploração.
Entretanto, tudo foi fechado a sete chaves e esperou-se por nova gestão que tarda em aparecer.
O tempo passou, aquilo que estava fechado, sem qualquer guarda foi fácil abrir e daí ao furto e à destruição foi apenas um pequeno passo.

Caminho por entre as árvores despidas de folhas e entre os alvéolos onde já não estão as tendas montadas, pensando e repensando se não seria melhor terem chegado a um mau acordo do que a esta boa demanda.

Setubalenses e quem nos visita ficaram privados do seu Parque de Campismo do Outão, uma estrutura que para ser reativada necessitará de muitos, mas mesmo muitos milhares de euros, graças à inabilidade de quem geriu este processo, transformando assim um belo e ativo espaço numa zona triste e sem vida, deixando-me triste.

Depois de ter captado algumas dezenas de imagens, enceto o caminho de regresso a casa pela bela estrada marginal ao rio azul que hoje se apresenta cinzento, tal como a musica que não me sai da mente, a marcha fúnebre de Chopin como se de um réquiem pelo Parque de Campismo do Outão se tratasse.

Rui Canas Gaspar
2016-janeiro-14

www.troineiro.blogspot.com

1 comentário:

  1. Olá , Rui, a meu ver a administração pública não quer administrar o Camping porque acha que não irá ganhar o suficiente. Por outro lado, se alguém da iniciativa privada administrar o Camping, eles irão cobrar preços que iriam espantar até a Rainha do United Kingdom.

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