Quem te viu e quem te vê
Para
além da frota de quatro hovermarines
destinados ao serviço comercial, para a travessia do Sado nos anos setenta do
século passado, também havia um hovercraft
para serviço particular dos dois irmãos Silva, os patrões da Torralta. Esse
sim, um verdadeiro hovercraft que
dispunha de três lugares e entrava pela terra dentro.
No
edifício onde hoje funciona o Casino de Troia, nos anos 70, quando se
encontrava em construção o mesmo era identificado por “Clube Hotel”. Foi
precisamente para entrar nesse edifício que se construiu uma rampa em betão
desde o rio, ao lado da ponte de madeira por onde transitavam os passageiros
dos hovermarine, para que o pequeno hovercraft, cor de laranja, subisse
depois de ter atravessado velozmente as águas do rio azul.
Curiosamente, no inovador
projeto inicial o Clube Hotel teria um canal de acesso à porta da receção para
que o cliente saísse diretamente do barco para o hall daquela unidade hoteleira
projetada para ser uma peça emblemática da nossa florescente indústria
turística.
O Clube Hotel apenas seria
suplantado em grandeza pelo Hotel 1001 cuja construção não chegou a ser
iniciada e que caso fosse edificado seria de facto um “hotel das Arábias”
implantado nas areias de Troia, um pouco mais para sul do grosso das
edificações que se viriam a desenvolver.
Enquanto se levava a cabo a
construção dos edifícios de Troia era o patrão Domingos Silva que mais vezes se
deslocava neste hovercraft que tinha
a capacidade de se mover em terra, contrariamente aos hovermarine que apenas usavam a almofada de ar para se elevarem na
água oferecendo menos resistência hidrodinâmica e assim se deslocarem
velozmente.
As duas imagens mostram-nos
o antes e o depois. A preto e branco podemos ver a veloz embarcação no Sado, a
cores, podemos observar o que resta dela, em cima de um telhado a olhar para o
rio azul.
A veloz e soberba embarcação
faz-nos lembrar os mortais humanos, quando jovens cheios de vida, de projetos e
esperança, mas que volvidos alguns anos são confrontados com a velhice e, pouco
depois, acabam como esta ímpar embarcação num qualquer impensável local.
Se calhar vale a pena pensar
nisto e darmos mais valor à vida, à amizade e a solidariedade.
Tenhamos uma boa semana.
Rui Canas Gaspar
2016-janeiro-31
www.troineiro.blogspot.com
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