Como me cortaram a
carreira de jornalista e de bombeiro…
Longe
vão os tempos em que as crianças do bairro de Troino e de tantos outros bairros
típicos da nossa cidade podiam brincar na rua, até que ouvissem a sua mãe
chamar pelo seu nome para regressar a casa, tal como as sirenes das fábricas o
faziam para convocar as suas operárias quando as fábricas “metiam peixe”.
Os
carros eram raros e por vezes quando algum passava pelas nossas bandas logo corríamos
para nos empoleirar na traseira do mesmo e desta forma andar alguns metros de
boleia, sem medir o perigo a que nos sujeitávamos.
Claro
está, que para os moços o perigo não existe, enquanto para as mães ele está
sempre à espreita em tudo o que seja lado. Isso era assim ontem, é hoje e
continuará a ser amanhã.
-
Certo dia, morando a nossa família na Rua das Oliveiras, estava minha mãe a
barrar com manteiga o tacho de barro onde iria cozer o bolo de farinha de
milho, e eu saltitando à sua volta à espera que a massa estivesse feita para
lamber os restos, quando começamos a ouvir as sirenes dos carros dos bombeiros
que subiam pela estrada do Viso, nas traseiras da nossa rua.
O
bolo para mim deixou logo de ter interesse e, com indisfarçável satisfação,
disse para a minha mãe que ia ver onde era o fogo.
-
Não vais! Podes ser atropelado. Dizia a minha mãe. Vou! Não sou nada
atropelado. Não vais! Vou… Não vais! Vou…
A
minha mãe perdeu a paciência e com o tacho de barro já barrado com a manteiga,
agarrando com ambas as mãos, bateu-o na minha dura cabeça que se encontrava
coberta com uma boina por causa do frio.
O
tacho ficou feito em mil pedaços, o bolo deixou de ser feito, levei mais umas
palmadas no traseiro e, pelos vistos isso viria a influenciar o meu trajeto
profissional futuro que não passaria por seguir a carreira de repórter nem
sequer a de bombeiro…
Rui
Canas Gaspar
2014-julho-23
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