Poço das Fontainhas
Das
muitas nascentes, poços e fontanários que existiam em Setúbal, pouco ou nada
resta que nos possa contar como é que os nossos antepassados tinham acesso ao
precioso e indispensável líquido, fonte de vida.
Dos
grandes fontanários existentes apenas chegaram aos nossos dias as fontes do
Sapal, do Quebedo e a Fonte Nova. Quanto aos poços comunitários apenas resta a
réplica do Poço do Concelho e o Poço das Fontainhas, o único original existente
em terras sadinas.
E
era aqui à sombra do seu amplo arco que há meio século ainda se podiam observar
os varinos a tratar dos seus apetrechos de pesca e, quem sabe, alguns deles a
deitarem o olho às bonitas jovens que ali vinham encher as suas bilhas de água
pura e fresca.
O
tempo passou, a fonte secou e há pouco tempo esta rara peça do nosso património
histórico, localizado nas Fontainhas, encontrava-se praticamente ao abandono e, pela sua
localização e estrutura construtiva, era comum vermos ser utilizada como
instalação sanitária.
Foi
graças ao esforço de um empresário local, com estabelecimento de restauração
junto ao poço que aquela peça histórica começou a apresentar um aspeto mais
decente, apresentando-se ultimamente pintado e limpo.
Tempos
mais tarde, o restaurante ao ter de construir a cobertura para a sua esplanada
teve a aprovação camarária para integrar no seu interior o histórico poço,
sendo que a cobertura deixa de fora a parte superior da construção, mantendo no
seu interior o fontanário propriamente dito.
Alguns
setubalenses têm-se insurgido com esta aberração que é ter dentro de um
estabelecimento privado uma peça histórica do património público.
A
questão que se põe, quanto a mim, é o de saber o que é que foi feito pelo poder
público para salvaguardar a fonte prestes a ficar destruída?
O
interesse autárquico por esta peça única deveria ser pouco ou nenhum a ponto de
autorizar a inserção dentro do espaço concessionado.
Como
se isso não bastasse e, para além de nada ter feito para preservar o fontanário,
a Autarquia ainda recebe agora algum dinheiro à sua conta, porquanto o
industrial de restauração ao pagar pelo espaço da esplanada coberta está a pagar
a área abrangida pela fonte.
Sendo
assim, será lícito, enquanto cidadão eu me poder vir a insurgir contra uma
pessoa que para além de recuperar uma peça patrimonial coletiva ainda tem de
pagar à Autarquia pelo espaço ocupado pela mesma?
Dá
que pensar nesta aberração, não dá?
Rui
Canas Gaspar
2014-julho-07
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