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sábado, 12 de julho de 2014

O miserável estado do berço do Parque Natural da Arrábida

Isto é o que resta de um antigo forno de cal.

Foi por causa dele que o poeta Sebastião da Gama lançou o seu grito de alerta para a destruição que em tempos estava a ser alvo a famosa e antiga Mata do Solitário.

Nos anos 40 do século passado um proprietário rico aqui da zona, de nome José Júlio Costa era dono de muitas terras na Arrábida. Ele possuía também um forno de cal, cujas ruínas é suposto serem as que aqui vemos.

Para alimentar o forno o proprietário mandava cortar árvores da sua propriedade, para transformar em lenha a fim de alimentar o mesmo. Neste caso as existentes na Mata do Solitário.

Ora é sabido do alto valor daquele espaço natural, com vegetação quase única no mundo e hoje classificado como Reserva Integral.

Sebastião da Gama, o poeta, grande amante e defensor da Arrábida, a que ele chamava de “Serra Mãe” ao dar conta deste crime ecológico escreveu pelo seu próprio punho uma célebre carta, em 1947, em papel timbrado da Pousada do Portinho da Arrábida, estabelecimento hoteleiro explorado pela sua família.
Naquela missiva, pedia ajuda ao Engenheiro Miguel Neves, entomólogo da Direção-Geral dos Serviços Agrícolas:

“Senhor Engenheiro
Socorro! Socorro! Socorro! O José Júlio da Costa começou (e vai já adiantada) a destruição da metade da Mata do Solitário que lhe pertence. Peço-lhe que trate imediatamente. Se for necessário restaure-se a pena de morte. SOCORRO!”

O corte de lenha acabou, o forno de cal seria desativado, o mato tomaria conta de todo este espaço e aquele que poderemos considerar como o berço do Parque Natural da Arrábida, encontra-se neste miserável estado.

Rui Canas Gaspar
2014-julho-07


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