Que diria o Cantador de
Setúbal?
Neste
quente dia de Verão, se António Maria Eusébio passasse pelo seu local de
trabalho, nos estaleiros da Praia da Saúde, certamente que não deixaria de
fazer de imediato um dos seus repentinos poemas que o deixaram imortalizado entre
as nossas gentes como o Cantador de Setúbal.
Ele
a quem muitos apelidavam de “calafate”, pelo orgulho que tinha da sua atividade
profissional, veria não o areal repleto de barcos em reparação ou em
construção, mas sim aquele lugar cheio de gente gozando as delícias do sol da
sua terra.
Ouviria
ainda o martelo bater no escopo introduzindo a estopa no único e último barco
que ali se encontra a ser reparado, provavelmente por um dos raros operários
que ainda sabem alguma coisa da velha arte de calafetar.
O
“Ponta do Verde” está em fase de calafetagem,
última etapa antes de ser pintado e de ser dada a reparação do casco
como concluída.
O
alto e rijo “cantador de Setúbal” de olhar vesgo, que entrava nas tabernas e
mesmo sem beber era por todos admirados, o que pensaria deste novo cenário à
beira Sado com que se depararia?
Este
homem que sem saber ler nem escrever deixou uma obra ímpar viria a ser
imortalizado pelas gentes da sua terra que atribuiu a uma das ruas da cidade de
Setúbal o seu nome de batismo, António Maria Eusébio, que esteve entre os vivos
de dezembro de 1820 e dezembro de 1911.
Em
29 de dezembro de 1968, o Rotary Clube de Setúbal, homenageou esta figura
poética, mandando implantar um pequeno busto no Parque do Bonfim, uma escultura
da autoria de Castro Lobo.
É
de sua autoria este belo poema que mostra bem o carácter deste grande homem do
nosso povo:
Nunca fui mal
procedido.
Nunca fiz mal a
ninguém.
Se acaso fiz algum bem
Não estou disso
arrependido.
Se mau pago tenho
tido,
São defeitos pessoais.
Todos seremos iguais
No reino da
eternidade,
Na balança da
igualdade
Deus sabe quem pesa
mais.”
Rui Canas Gaspar
2014-julho-07
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