notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

terça-feira, 8 de julho de 2014



Que diria o Cantador de Setúbal?

Neste quente dia de Verão, se António Maria Eusébio passasse pelo seu local de trabalho, nos estaleiros da Praia da Saúde, certamente que não deixaria de fazer de imediato um dos seus repentinos poemas que o deixaram imortalizado entre as nossas gentes como o Cantador de Setúbal.

Ele a quem muitos apelidavam de “calafate”, pelo orgulho que tinha da sua atividade profissional, veria não o areal repleto de barcos em reparação ou em construção, mas sim aquele lugar cheio de gente gozando as delícias do sol da sua terra.

Ouviria ainda o martelo bater no escopo introduzindo a estopa no único e último barco que ali se encontra a ser reparado, provavelmente por um dos raros operários que ainda sabem alguma coisa da velha arte de calafetar.

O “Ponta do Verde” está em fase de calafetagem,  última etapa antes de ser pintado e de ser dada a reparação do casco como concluída.

O alto e rijo “cantador de Setúbal” de olhar vesgo, que entrava nas tabernas e mesmo sem beber era por todos admirados, o que pensaria deste novo cenário à beira Sado com que se depararia?

Este homem que sem saber ler nem escrever deixou uma obra ímpar viria a ser imortalizado pelas gentes da sua terra que atribuiu a uma das ruas da cidade de Setúbal o seu nome de batismo, António Maria Eusébio, que esteve entre os vivos de dezembro de 1820 e dezembro de 1911.

Em 29 de dezembro de 1968, o Rotary Clube de Setúbal, homenageou esta figura poética, mandando implantar um pequeno busto no Parque do Bonfim, uma escultura da autoria de Castro Lobo.

É de sua autoria este belo poema que mostra bem o carácter deste grande homem do nosso povo:

Nunca fui mal procedido.
Nunca fiz mal a ninguém.
Se acaso fiz algum bem
Não estou disso arrependido.
Se mau pago tenho tido,
São defeitos pessoais.
Todos seremos iguais
No reino da eternidade,
Na balança da igualdade
Deus sabe quem pesa mais.”

Rui Canas Gaspar
2014-julho-07


Sem comentários:

Enviar um comentário