Não sei se deva rir ou chorar
Quando era menino contaram-me algumas histórias da
História de Portugal que guardei na memória até aos dias de hoje e que dão
conta do engenho e arte de ludibriar do nosso povo.
Lembro-me daquela que estando uma das nossas
fortificações sitiada pelos castelhanos, que assim condenavam os portugueses a
morrer pela fome ou se renderiam, uma águia-pesqueira ao sobrevoar o castelo
deixou cair o peixe que trazia presos nas garras.
Logo o comandante mandou recolher o peixe e embora
todos estivessem esfomeados, mandou servi-lo ao comandante castelhano. Este
surpreendido julgou que os portugueses tinham alguma fonte de abastecimento
secreta mandando levantar o cerco e partiu.
Outra história é aquela que conta que um dos nossos
monarcas, em altura de crise, serviu um grande banquete no Tejo, a bordo de uma
nau, aos seus aliados ingleses.
Os copos em prata e em ouro, depois de servidos eram
atirados pela borda fora, numa ostensiva manifestação de poder e riqueza, para
espanto dos ingleses.
Quando o banquete acabou e os ingleses foram embora as
redes que debaixo de água cercavam a nau foram recolhidas e toda a louça
recuperada, como não podia deixar de ser.
Mais recentemente, nos anos 70 do século passado
quando os “patos bravos” como eram alcunhados alguns construtores civis, se
encontravam em dificuldades económicas, compravam um Mercedes e um fato novo e
só depois assim vestidos e bem montados iam ao banco onde regra geral
conseguiam os empréstimos que pretendiam…
Parece que sempre fomos um povo de “chicos espertos” e
por isso não sei se devia chorar ou rir quando hoje, terça-feira dia 1 de julho
de 2014 verifiquei que no areal do Parque Urbano de Albarquel estavam centenas
de crianças, das escolas pré-primárias usufruindo das águas límpidas e do clima
agradável.
O que me levou a este sentimento misto foi o verificar
que os avisos de “Zona Perigosa” se encontravam cobertos com papel e presos com
fita-cola conforme tinham sido colocados para o fim de semana aquando da
realização do campeonato do mundo de águas abertas.
É claro que aquele local não deixa de ser perigoso
pelo facto de se ter uma flotilha de caiaques a apoiar nadadores que têm também
a vigiá-los barcos salva-vidas e equipas da C.V.P. em terra.
Ou é perigoso, ou não é perigoso. O que pode é haver
mais ou menos vigilância ou vigilância nenhuma.
Não deixa de ser engraçado o engenho e a arte de
dissimulação dos nossos governantes locais, que com um pedaço de papel e alguma
fita-cola rapidamente “viram o bico ao prego”. E o que era perigoso, deixa de o
ser em questão de minutos.
Não gostaria de ter de voltar a focar este assunto,
mas de facto não resisti à tentação depois de ver mais esta ação demonstrativa
da capacidade de “resolução” de problemas por parte de alguns dos nossos
governantes.
Para finalizar, gostaria de dizer que acho muito bem
que se continuem a fazer provas de caráter mundial no nosso belo Sado. Também
acho muito bem que se coloquem todos os meios de emergência e socorro ao
serviço dos nadadores de craveira mundial.
Mas quero que saibam que para mim, esses nadadores não
serão nunca mais importantes do que os milhares de crianças da minha terra que
vão usufruir diariamente deste NOSSO belo espaço. Um local que não dispõe de um
único nadador salvador. Por isso, não sei se deva rir ou chorar com tanta
esperteza saloia e ao mesmo tempo tanta falta de visão.
2014-julho-01
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