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domingo, 13 de julho de 2014

Uma história para a História ocorrida com o barco EVORA

O Barreiro e região envolvente era uma zona da margem sul do Tejo onde laboravam corticeiros, salineiros, pescadores, metalúrgicos, operários químicos e têxteis de entre outros, que labutavam afincadamente por uma vida melhor. Politicamente era uma comunidade também conhecida em Portugal pela luta de resistência que mantinha contra o regime ditatorial vigente no país.

Por esse facto, a PVDE (Policia de Vigilância e de Defesa do Estado) formada em 1933, seguia de perto os movimentos operários particularmente ativos nesta região. As forças policiais faziam sentir a sua presença por intermédio de um forte e omnipresente contingente da Guarda Nacional Republicana, uma força militarizada que naqueles tempos funcionava como uma espécie de guarda pretoriana do Estado Novo.

Em 1945, a PVDE muda de nome e passa a apresentar-se como PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) a temível polícia política portuguesa, organizada segundo os moldes da GESTAPO, a polícia secreta, de má memória em toda a Europa ocupada pela Alemanha nazi.

Naqueles tempos de ditadura, a 23 de maio de 1936, pelas 11 horas da manhã a polícia política invadiu as Oficinas Gerais dos Caminhos-de-Ferro do Sul e Sueste, com o propósito de prender o serralheiro José Francisco.

Devida a desta ação da polícia o pessoal operário decidiu solidarizar-se com o seu colega e logo após o toque das 13 horas partiu em perseguição da polícia que se dirigia para o cais de embarque onde eu me encontrava atracado.

Os operários arremessavam pedras aos agentes que se refugiavam a bordo e estes respondiam a tiro, o que ocasionou 4 feridos. Este evento ficou conhecido para a história como o “caso do vapor EVORA”.

Se o Barco EVORA falasse poderia resumir assim este episódio:

- Eu tremia, não sei se por causa da ligeira ondulação, ou das pedradas que me acertavam cada vez com mais força. Claro que como podem constatar nada tinha a ver com o assunto, apenas cumpria a minha missão de transportador entre as pacíficas margens do Tejo. Mas, tal como reza o velho ditado português: “quando o mar bate na rocha, quem sofre é o mexilhão…”

Rui Canas Gaspar
2014-julho-13


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