Uma história para a
História ocorrida com o barco EVORA
O
Barreiro e região envolvente era uma zona da margem sul do Tejo onde laboravam
corticeiros, salineiros, pescadores, metalúrgicos, operários químicos e têxteis
de entre outros, que labutavam afincadamente por uma vida melhor. Politicamente
era uma comunidade também conhecida em Portugal pela luta de resistência que
mantinha contra o regime ditatorial vigente no país.
Por
esse facto, a PVDE (Policia de Vigilância e de Defesa do Estado) formada em 1933,
seguia de perto os movimentos operários particularmente ativos nesta região. As
forças policiais faziam sentir a sua presença por intermédio de um forte e
omnipresente contingente da Guarda Nacional Republicana, uma força militarizada
que naqueles tempos funcionava como uma espécie de guarda pretoriana do Estado
Novo.
Em
1945, a PVDE muda de nome e passa a apresentar-se como PIDE (Polícia
Internacional e de Defesa do Estado) a temível polícia política portuguesa,
organizada segundo os moldes da GESTAPO, a polícia secreta, de má memória em
toda a Europa ocupada pela Alemanha nazi.
Naqueles
tempos de ditadura, a 23 de maio de 1936, pelas 11 horas da manhã a polícia
política invadiu as Oficinas Gerais dos Caminhos-de-Ferro do Sul e Sueste, com
o propósito de prender o serralheiro José Francisco.
Devida
a desta ação da polícia o pessoal operário decidiu solidarizar-se com o seu
colega e logo após o toque das 13 horas partiu em perseguição da polícia que se
dirigia para o cais de embarque onde eu me encontrava atracado.
Os
operários arremessavam pedras aos agentes que se refugiavam a bordo e estes
respondiam a tiro, o que ocasionou 4 feridos. Este evento ficou conhecido para
a história como o “caso do vapor EVORA”.
Se
o Barco EVORA falasse poderia resumir assim este episódio:
-
Eu tremia, não sei se por causa da ligeira ondulação, ou das pedradas que me
acertavam cada vez com mais força. Claro que como podem constatar nada tinha a
ver com o assunto, apenas cumpria a minha missão de transportador entre as
pacíficas margens do Tejo. Mas, tal como reza o velho ditado português: “quando
o mar bate na rocha, quem sofre é o mexilhão…”
Rui Canas Gaspar
2014-julho-13
Sem comentários:
Enviar um comentário