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terça-feira, 5 de abril de 2016

É tempo de honrar os heróis setubalenses

Foi no dia 9 de abril de 1918 que ocorreu o maior desastre militar da história de Portugal, depois de Alcácer-Quibir, quando o Exército Português sofreu uma pesada derrota frente às forças alemãs, na batalha de Lys, em terras da Flandres.

Do Corpo Expedicionário Português enviado para aquela que ficou conhecida como Primeira Guerra Mundial por lá ficaram cerca de 10.000 soldados e muitos outros milhares regressaram à sua terra natal com as mais diversas mazelas.

Em Setúbal, erigiu-se um monumento memorial a esses mortos, passados que foram pouco mais de uma dúzia de anos sobre a data do Armistício.

Tal monumento que deveria ter sido erigido a expensas do país que enviou estes milhares de jovens para a guerra, só foi possível graças a subscrição pública das gentes do Sado, pese embora os fracos ganhos auferidos na época da subscrição.

No dia 22 de Dezembro de 1931, com pompa e circunstância era inaugurado o singelo memorial setubalense, segundo projeto de Bonfilho Faria e cuja iniciativa tinha cabido à delegação de Setúbal da Liga dos Combatentes.

Vários anos volvidos e de novo o Exército Português se confronta com três frentes de combate, desta vez em África, uma guerra contra os movimentos independentistas de Angola, Moçambique e Guiné.

E foi precisamente para este último território que eu, então jovem militar, incorporado obrigatoriamente no Exército fui mandado, tal como muitos milhares de setubalenses.

Muitos destes rapazes não regressariam vivos e, mesmo depois de mortos aqueles que lhe enviaram exigiam à família que custeasse o retorno do corpo, ou então por lá ficaria. Situação ignóbil!

Passadas várias décadas sobre o términus do conflito onde está a homenagem devida aos combatentes do Ultramar? 

Onde está o memorial setubalense aos seus jovens para lá enviados e que não retornaram com vida?

Nem sequer uma artéria da cidade faz alusão a esses jovens enviados para a guerra! Existe sim em Setúbal a Rua Amílcar Cabral, o chefe guerrilheiro do P.A.I.G.C. que se opunha a António de Spínola, o comandante supremo das Forças Armadas Portuguesas na Guiné.

Que terra é esta que honra os adversários e esquece os seus filhos enviados para combater nas distantes terras africanas?

Será que não é já tempo dos antigos combatentes da Guerra do Ultramar, mortos ou vivos, serem lembrados em Setúbal?

Pessoalmente considero esta lacuna como mais uma derrota não das nossas Forças Armadas mas da nossa classe política, que pela sua ação, mais parece estar ao lado do adversário do que do seu próprio povo.

Rui Canas Gaspar
2016-abril-05

www.troineiro.blogspot.com

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