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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Fonte da Paciência a joia perdida da Arrábida

Os invasores romanos quando decidiram instalar nesta zona da Arrábida uma unidade industrial de salga de peixe e seus derivados, fizeram-no certamente por alguns bons motivos, seguramente bem ponderados.

Primeiro estavam junto a um bom porto de abrigo, depois encontravam-se numa zona de grandes recursos piscícolas e, finalmente, para que a sua indústria pudesse funcionar em pleno necessitavam de quantidade significativa de um outro imprescindível recurso natural: a água.

E foi precisamente este último recurso aquele que foram encontrar de forma abundante, na base do Creiro, uma zona da Arrábida frente à Pedra da Anicha, quase junto à praia. Uma verdadeira riqueza quando é sabido que não são abundantes os aquíferos existentes nesta região.

A água que então corria abundantemente e que fornecia a indústria e a população que laborava naquele complexo foi ao longo dos anos ficando mais escassa.

Mesmo assim, centenas de anos depois, no século XIX, ainda temos notícia de que um agricultor popularmente conhecido por “Zé Nabo” vinha a pé, acompanhando as suas vacas, desde a Maçã, perto de Sesimbra, para apascentar e dessedentar o gado nesta fonte, facto que ficou registado num dos painéis de azulejos colocado anos mais tarde neste local.

Na década de 60 do século XX jorrava alguma água desta fonte que abastecia as famílias de pescadores que, no Verão, acampavam nas redondezas.

No final desta década a água ainda continuava a verter para os cantis dos escuteiros que ali passavam nas suas caminhadas pela serra, porém estava prestes a esgotar-se e era já um ténue fio  que a fonte podia oferecer. Era então necessário algum tempo e muita paciência para poder recolher um pouco do precioso líquido!...

Uma década depois, nos finais dos anos setenta, já o fio de água não corria no Verão. A fonte oferecia a sua água mas apenas gota a gota, como que chorando pela sua anunciada morte.

Nesse tempo, os escuteiros nas suas caminhadas pela serra mãe chegavam a acampar naquela zona e enquanto dormiam nas suas tendas procuravam fazer o abastecimento recolhendo a água que já não corria mas que agora apenas pingava da outrora pujante fonte.

E chegou o dia em que com ou sem paciência já nem uma simples gota a fonte passou a oferecer. Tinha secado de vez, apenas ficando o local de onde vertia pura e cristalina e a sua memória na mente de alguns daqueles que um dia ali se dessedentaram.

Rui Canas Gaspar
2016-abril-22

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