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sábado, 21 de março de 2015

A calçada vermelha de Setúbal

Em Setúbal, a exemplo da generalidade das terras de Portugal, podemos observar lindos e artísticos pavimentos construídos em pedra, onde o negro do basalto e o branco do calcário contrastam formando artísticos desenhos dignos de serem observados em pormenor, como é disso  exemplo o brasão com as armas da cidade que podemos admirar no artístico pavimento da Praça de Bocage, frente aos Paços do Concelho.

O cinzento granito foi também utilizado em vias de muito trânsito, devido à sua resistência, como foi, por exemplo, o caso do revestimento da antiga Rua Nova da Conceição, rebatizada  como Avenida 5 de Outubro. Um tapete betuminoso haveria posteriormente de cobrir esta via tal como muitas outras do mesmo tipo.

Porém, Na marginal, à beira-rio, toda aquela avenida haveria de ser revestida com esses resistentes paralelepípedos colocados artisticamente.

O basalto cortado de forma irregular e não em peças perfeitas foi utilizado à beira-rio após a construção das grandes obras do Porto de Setúbal e foi também aí que foi utilizada uma pedra pouco comum na nossa cidade, a marga formando naquele local uma calçada de cor avermelhada.

E é o que resta desta calçada vermelha que ainda podemos observar um pouco, nos pontos em que a areia o deixa a descoberto, no Parque Urbano de Albarquel, na zona que já se encontra disponível e que pertencia às  instalações da SADONAVAL.

De onde teria vindo esta marga e porque teria ela sido utilizada neste pavimento? Uma boa questão para a qual eu não tenho resposta.

Para os estudiosos, particularmente para os arqueólogos as pedras contam-nos histórias incríveis e as pedras utilizadas em Setúbal são disso a prova, desde aquelas que foram utilizadas há centenas de anos na calçada romana do Viso, extraídas ali perto, na cordilheira da Arrábida, até àquelas outras que vindas das frias terras do norte da Europa acabariam por ser utilizadas na construção de algumas edificações e pavimentos lá para as bandas das Fontainhas.

E porque carga de água é que haveríamos de importar pedra de tão longe quando temos tanta por aqui, perguntarão os leitores?

De facto não a compramos. Essa pedra servia de lastro aos muitos barcos que vindos do Norte da Europa demandavam a nossa terra para aqui se abastecerem do melhor sal do mundo, o sal de “St. Ubes”.

Depois de fundearem para carregar o sal, os barcos retiravam do seu porão as pedras que lhes serviam de lastro deixando-as por cá. Pedras que viriam posteriormente a ser utilizadas nos mais diversos trabalhos.

São histórias simples e curiosas como esta que as nossas pedras nos contam. Saibamos nós escutar os contadores e pesquisar um pouco da riquíssima história setubalense e certamente iremos aprender a amar melhor esta nossa terra tão rica e tão desconhecida.

Rui Canas Gaspar
2015-março-21

www.troineiro.blogspot.com

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