A calçada vermelha de
Setúbal
Em
Setúbal, a exemplo da generalidade das terras de Portugal, podemos observar
lindos e artísticos pavimentos construídos em pedra, onde o negro do basalto e
o branco do calcário contrastam formando artísticos desenhos dignos de serem observados
em pormenor, como é disso exemplo o
brasão com as armas da cidade que podemos admirar no artístico pavimento da Praça
de Bocage, frente aos Paços do Concelho.
O
cinzento granito foi também utilizado em vias de muito trânsito, devido à sua
resistência, como foi, por exemplo, o caso do revestimento da antiga Rua Nova
da Conceição, rebatizada como Avenida 5 de Outubro. Um tapete
betuminoso haveria posteriormente de cobrir esta via tal como muitas outras do
mesmo tipo.
Porém,
Na marginal, à beira-rio, toda aquela avenida haveria de ser revestida com
esses resistentes paralelepípedos colocados artisticamente.
O
basalto cortado de forma irregular e não em peças perfeitas foi utilizado à
beira-rio após a construção das grandes obras do Porto de Setúbal e foi também
aí que foi utilizada uma pedra pouco comum na nossa cidade, a marga formando
naquele local uma calçada de cor avermelhada.
E
é o que resta desta calçada vermelha que ainda podemos observar um pouco, nos
pontos em que a areia o deixa a descoberto, no Parque Urbano de Albarquel, na
zona que já se encontra disponível e que pertencia às instalações da SADONAVAL.
De
onde teria vindo esta marga e porque teria ela sido utilizada neste pavimento? Uma
boa questão para a qual eu não tenho resposta.
Para
os estudiosos, particularmente para os arqueólogos as pedras contam-nos
histórias incríveis e as pedras utilizadas em Setúbal são disso a prova, desde
aquelas que foram utilizadas há centenas de anos na calçada romana do Viso, extraídas
ali perto, na cordilheira da Arrábida, até àquelas outras que vindas das frias
terras do norte da Europa acabariam por ser utilizadas na construção de algumas
edificações e pavimentos lá para as bandas das Fontainhas.
E
porque carga de água é que haveríamos de importar pedra de tão longe quando
temos tanta por aqui, perguntarão os leitores?
De
facto não a compramos. Essa pedra servia de lastro aos muitos barcos que vindos
do Norte da Europa demandavam a nossa terra para aqui se abastecerem do melhor
sal do mundo, o sal de “St. Ubes”.
Depois
de fundearem para carregar o sal, os barcos retiravam do seu porão as pedras
que lhes serviam de lastro deixando-as por cá. Pedras que viriam posteriormente
a ser utilizadas nos mais diversos trabalhos.
São
histórias simples e curiosas como esta que as nossas pedras nos contam. Saibamos
nós escutar os contadores e pesquisar um pouco da riquíssima história
setubalense e certamente iremos aprender a amar melhor esta nossa terra tão
rica e tão desconhecida.
Rui
Canas Gaspar
2015-março-21
www.troineiro.blogspot.com
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