O comboio alemão ao largo
da costa setubalense
Estávamos
no ano de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial.
O
vapor tinha saído do porto de Setúbal abastecido da lenha necessária para que a
sua caldeira produzisse a energia suficiente para o fazer movimentar durante o período
da faina.
Naquele
dia não foi necessário recorrer ao apoio do buque que, carregado, costumava
segui-lo para o poder reabastecer, quando se tratava de maiores distâncias ou mais
tempo passado no mar.
Era
já noite e o Francisco, jovem pescador, estava no seu turno de vigia a bordo do
“Alentejano” vapor setubalense da pesca do cerco que se encontrava fundeado
junto à Praia da Baleeira, ali para os lados do Cabo Espichel, em Sesimbra, um
local bem abrigado graças às altas encostas escarpadas.
Subitamente,
o jovem reparou que a poucos metros do vapor setubalense uma ténue luz vermelha
se deslocava sobre a água, de norte para sul, podendo observar também uma
espécie de braço que dela saía.
Imediatamente
deu o alarme aos seus camaradas que tiveram oportunidade de constatar tratar-se
de um submarino, que navegava submerso,
Naqueles
tempos conturbados esta era a arma mais temida pelos homens do mar, os seus
torpedos foram responsáveis pelo afundamento de milhares de navios e por muitos
mais milhares de mortos.
Poucos
minutos depois de ter passado o submarino, surgem as silhuetas de vários navios
de guerra que, ladeando, protegiam um enorme paquete da marinha mercante.
O
comboio alemão passou bem perto do vapor pesqueiro setubalense sem incomodar e
lá seguiu a sua rota, para sul.
Nessa
altura os exércitos nazis alemães, aliados aos fascistas italianos ocupavam
vastos territórios do Norte de África, combatendo os exércitos aliados e,
certamente, aquele importante comboio levaria reforços para o teatro de
operações, a conhecida “Guerra do Deserto” que ocorreu entre junho de 1940 e
maio de 1943.
Salazar,
o governante português, conseguiu manter a neutralidade do país que mesmo sem
se envolver no conflito via o seu espaço aéreo e marítimo ser utilizados pelas diferentes
forças.
Era
o tempo do volfrâmio, um minério extraído de uma centena de minas portugueses, minério
destinado ao fabrico de armas e munições, cujo preço subiu em flecha e, pago
pelos alemães em ouro, canalizado para o nosso país via Suíça.
Também
os pescadores setubalenses chamaram a esse período o do volfrâmio, porquanto o
preço da sardinha subiu bastante, peixe destinado às fábricas de conservas que
o exportavam igualmente para os países em guerra.
O
comboio marítimo passou, o conflito bélico terminou, as minas encerraram e as
fábricas conserveiras com o tempo também desapareceram, ficou a recordação de
um velho pescador de Troino que hoje partilhou mais uma das suas ricas memórias
de um passado recente e seguramente já pouco conhecido.
Rui
Canas Gaspar
2015-março-14
www.troineiro.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário