A propósito da introdução dos javalis na
Arrábida
Em 2013 ainda não se
falava na proliferação de javalis na Serra da Arrábida e estando a recolher
material para escrever o livro “Mistérios da Arrábida” (não editado) recolhi
elementos e testemunhos junto de habitantes e bons conhecedores da serra. Daí
resultou um texto de que partilho parcialmente.
“O
Tapir olhava para aquela terra revolvida, onde ainda se podiam ver à superfície
alguns bolbos de lírios selvagens. Coçou o queixo com ar apreensivo, virando-se
para o Grande Urso perguntou:
-
Mas como é que animais desse porte que se encontravam extintos agora podem ser
observados por aqui, que mistério vem a ser esse?
O
rapaz baixou-se e, com a sua faca-de-mato, escavou pequenos buracos naquela
terra remexida onde foi enterrando os bolbos que se encontravam espalhados à
superfície, enquanto o seu companheiro, o entendido Grande Urso, respondia.
-
Ao certo, ao certo, não te posso dizer porque não vi como foi feito, porém como
vocês sabem eu interesso-me por tudo o que seja animal existente aqui no P.N.A.
e falando com o meu pai sobre o assunto, ele esclareceu-me, dizendo que a
informação lhe tinha chegado por intermédio de um velho amigo que é caçador.
Conta-se
por aí que certos senhores ricaços que costumavam ir caçar para o Alentejo, lá
para as bandas do Alqueva, andavam desgostosos por este ser o único Parque
Natural onde não existia caça grossa e vai daí trataram de comprar uns javalis,
de diversas proveniências, para evitar problemas de consanguinidade e, numa
noite, largaram-nos aos casais, em quatro diferentes pontos do Parque.
Algumas
das fêmeas até já se encontravam prenhas. Os animais começaram a reproduzir-se
rapidamente e a disseminar-se por todo este território.
Ora
como os javalis podem andar por noite entre dois a catorze quilómetros e como
as javalinas podem ter entre dois a dez leitões por ninhada, então não é de
admirar como rapidamente este Parque fosse repovoado a partir da sua
reintrodução, podendo-se já ver estes animais um pouco por todo o lado.
E
já são tantos que os acidentes rodoviários têm vindo a ocorrer em algumas
estradas aqui do parque, com animais atropelados e viaturas danificadas, pelo
que se torna urgente serem colocados sinais de trânsito a informar os
automobilistas para a existência de caça grossa.”
Rui
Canas Gaspar (in: Mistérios da Arrábida)
2015-março-23
www.troineiro.blogspot.com
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