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segunda-feira, 16 de março de 2015

Democraticamente quem manda aqui sou eu!

Longe de mim criticar quem faz greve e muito menos as razões que levam trabalhadores a optar por esta forma de luta por aquilo que considerem seus direitos, adquiridos, a adquirir, ou a que se julgam terem direito.

Sou do tempo em que não se podia sequer opinar, quanto mais manifestar, e tive a experiencia de pelo facto de um dia o fazer, ter a desagradável visita de dois agentes da polícia política, de má memória, a temida PIDE/DGS, que me interrogaram sobre o que então tinha opinado.

Pouco tempo depois de ter terminado o serviço militar obrigatório cumprido em grande parte em terras da Guiné, já aqui, em Portugal, tive oportunidade de viver intensamente a mudança do Ditadura para a Democracia, esse parto nem sempre fácil.

Testemunhei a generosidade de muitos setubalenses, de vários quadrantes políticos, que se entregaram de corpo e alma ao serviço dos seus conterrâneos, doando o seu tempo e talentos por intermédio dos partidos políticos. Também conheci (conheço!) alguns outros setubalenses oportunistas que apanharam a boleia da revolução para a usarem em proveito próprio.

Vivendo tudo isto, volvidos 40 anos sobre a madrugada de 25 de abril de 1974, não esperaria ver na manhã de hoje, 16 de março de 2015, tamanha manifestação de ditadura como aquela que presenciei, materializada pelo encerramento da porta principal dos Paços do Concelho com uma corrente.

Como disse acima, nada tenho contra a greve ou os grevistas, mas se eles são livres para fazer greve, os outros trabalhadores que não concordam, ou não querem optar por esta forma de manifestação e desejam trabalhar têm também o direito de o fazer, caso contrario a vontade de uns (não sei se poucos ou muitos) imperará sobre a dos outros, que não podendo entrar no edifício são “democraticamente” obrigados a fazer greve.

Ora se a greve é voluntária, não faz sentido por esta via transforma-la  em obrigatória. Mas, para mim o que menos sentido ainda faz são os responsáveis pela Autarquia, não usarem dos poderes que lhes foram conferidos democraticamente pelos setubalenses, para no mesmo dia em que foi colocado, mandarem retirar a corrente e o cadeado, símbolos, não de liberdade, mas de opressão.

Passados tantos anos sobre a madrugada de Abril, temos obrigação de deixar as fraldas e viver uma democracia adulta e não numa sociedade de faz de conta.

O que vi hoje naquela que deve ser a casa da democracia sadina deixou-me triste e veio-me à mente uma engraçada frase proferida por um pseudo revolucionário aqui da nossa terra quando afirmava: “Democraticamente quem manda aqui sou eu!” .

Rui Canas Gaspar
2015-março-16

www.troineiro.blogspot.com

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