Democraticamente quem
manda aqui sou eu!
Longe
de mim criticar quem faz greve e muito menos as razões que levam trabalhadores
a optar por esta forma de luta por aquilo que considerem seus direitos,
adquiridos, a adquirir, ou a que se julgam terem direito.
Sou
do tempo em que não se podia sequer opinar, quanto mais manifestar, e tive a
experiencia de pelo facto de um dia o fazer, ter a desagradável visita de dois
agentes da polícia política, de má memória, a temida PIDE/DGS, que me
interrogaram sobre o que então tinha opinado.
Pouco
tempo depois de ter terminado o serviço militar obrigatório cumprido em grande
parte em terras da Guiné, já aqui, em Portugal, tive oportunidade de viver
intensamente a mudança do Ditadura para a Democracia, esse parto nem sempre
fácil.
Testemunhei
a generosidade de muitos setubalenses, de vários quadrantes políticos, que se
entregaram de corpo e alma ao serviço dos seus conterrâneos, doando o seu tempo
e talentos por intermédio dos partidos políticos. Também conheci (conheço!)
alguns outros setubalenses oportunistas que apanharam a boleia da revolução
para a usarem em proveito próprio.
Vivendo
tudo isto, volvidos 40 anos sobre a madrugada de 25 de abril de 1974, não
esperaria ver na manhã de hoje, 16 de março de 2015, tamanha manifestação de
ditadura como aquela que presenciei, materializada pelo encerramento da porta
principal dos Paços do Concelho com uma corrente.
Como
disse acima, nada tenho contra a greve ou os grevistas, mas se eles são livres
para fazer greve, os outros trabalhadores que não concordam, ou não querem
optar por esta forma de manifestação e desejam trabalhar têm também o direito
de o fazer, caso contrario a vontade de uns (não sei se poucos ou muitos)
imperará sobre a dos outros, que não podendo entrar no edifício são “democraticamente”
obrigados a fazer greve.
Ora
se a greve é voluntária, não faz sentido por esta via transforma-la em obrigatória. Mas, para mim o que menos
sentido ainda faz são os responsáveis pela Autarquia, não usarem dos poderes
que lhes foram conferidos democraticamente pelos setubalenses, para no mesmo
dia em que foi colocado, mandarem retirar a corrente e o cadeado, símbolos, não
de liberdade, mas de opressão.
Passados
tantos anos sobre a madrugada de Abril, temos obrigação de deixar as fraldas e
viver uma democracia adulta e não numa sociedade de faz de conta.
O
que vi hoje naquela que deve ser a casa da democracia sadina deixou-me triste e
veio-me à mente uma engraçada frase proferida por um pseudo revolucionário aqui
da nossa terra quando afirmava: “Democraticamente quem manda aqui sou eu!” .
Rui
Canas Gaspar
2015-março-16
www.troineiro.blogspot.com
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