notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

terça-feira, 28 de julho de 2020


Faz hoje 50 anos 

No dia 27 de julho de 1970, faz hoje 50 anos, era também segunda-feira e o dia apresentava-se igualmente luminoso não fosse o ar pesado que pairava sobre a família que em Lisboa olhava fixamente para o rapaz que ia  partir para a guerra. 

Ele estava prestes a embarcar no Ana Mafalda, um navio misto de passageiros e carga, rumo à Guiné, onde então se desenrolava uma das mais aguerridas frentes da Guerra Colonial. 

Subitamente uma notícia começou a correr no cais de embarque fazendo aflorar a esperança de que o barco não sairia do porto. Oliveira Salazar falecera! 

Foi “sol de pouca dura” pois o barco apitou, as amarras foram largadas e ele deixou Lisboa e fez-se ao mar rumo a Bissau onde dias depois atracou no cais do Pigiguiti. 

27 longos meses haveria de passar naquela quente terra africana, onde pela primeira vez conheci um hospital graças ao terrível paludismo que por pouco não acabou comigo. 

Foi ali, naquele espaço, quando desanimado e quase sem me poder mexer que perguntei a um jovem enfermeiro se os meus dias estavam a chegar ao fim, ao que este respondeu: “Estamos à espera de uma injeção que vem da Metrópole. Se chegar a tempo safas-te. Se não chegar lerpas!”. 

A injeção chegou a tempo e eu venci o jogo da vida. 

Rui Canas Gaspar
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2020-julho-27

domingo, 26 de julho de 2020


Setúbal vai ficar ainda mais bonita 

Longe vão os tempos em que Setúbal era comparada a uma tela de gosto duvidoso porém ornamentada com uma moldura digna de uma verdadeira obra de arte. 

Hoje a cidade apresenta-se agradável não só para quem nos visita mas sobretudo para os que cá residem, que tem à sua disposição mais espaços verdes, mais edifícios recuperados e mais obras de arte disseminadas por diferentes espaços públicos. 

Depois da decoração da rotunda da Rodrigues Manito com motivo de agrado quase geral, em breve poderemos desfrutar da nossa joia da coroa, o vetusto Convento de Jesus e as suas zonas envolventes, agora com um aspeto muito mais agradável. 

Esta semana nova obra de arte foi colocada na Avenida Luisa Todi e hoje mesmo reparei no enorme buracão que foi feito na rotunda frente ao Hospital de São Bernardo e que pela armação em ferro que está no seu interior indicia uma sólida base que irá provavelmente suster uma obra de grande envergadura. 

Os bairros populares, situados a poente e a nascente têm sofrido profundas intervenções e algumas zonas da cidade não tem ficado esquecidas, como é o caso do Liceu. 

Certamente que muito há para fazer a vários níveis. Se calhar até poderíamos ter ido mais longe, mas que a cidade está diferente para melhor disso não temos a menos dúvida e só não verá quem não quiser. 

Rui Canas Gaspar
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2020-julho-26

terça-feira, 7 de julho de 2020


Setúbal na História ou histórias de Setúbal (128)
Um dos mais valiosos tesouros setubalenses 

Um dos tesouros setubalenses que em breve certamente poderemos apreciar no Museu da Cidade, encontrou-se em tempos a decorar a Igreja de Jesus. 

Não deixa de ser curioso notar que há mais de 170 anos estas obras de arte já eram apreciadas não só por nacionais como por estrangeiros. 

Conforme escreveu o conde Raczynski em 1844, Os quadros em número de 17 são atribuídos ao pintor Grão-Vasco embora não se conheça nenhum documento que o prove; porém o citado conde, por alguns anos ministro da Prussia junto à corte de Lisboa, e que foi examinar a Setúbal, embora se não julgasse habilitado para tal, aponta, no entanto , esta coleção como uma das mais preciosas que ele viu em Portugal. 

1.       S. Francisco recebendo as chagas
2.       Anunciação de Nossa Senhora
3.       O nascimento de Cristo
4.       A Circuncisão
5.       A adoração dos Reis
6.       A santa Verónica
7.       Jesus crucificado 8º Calcário
8.       O Calvário
9.       Assunção de Nossa Senhora
10.   O santo Sepulcro
11.   A Ressureição
12.   Santas religiosas
13.   Santos Mártires
14.   Santo António
15.   A Ascensão
E mais dois quadrinhos representando a Prisão de Cristo e a Flagelação. 

Rui Canas Gaspar
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2010-julho-07

segunda-feira, 4 de maio de 2020



A Milenar e quase ignorada Setúbal 

Quando em 1158 D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, conquistou Palmela aos mouros, meia dúzia de quilómetros abaixo da colina onde se encontra o seu castelo, Setúbal pouco mais seria que um pequeno povoado sem grande importância, ocupado por pescadores e salineiros. 

Porém, um milhar de anos antes deste evento, a mesma Setúbal provavelmente teria um destaque bem maior do que a altaneira Palmela, isto a fazer fé nas descobertas arqueológicas que têm aparecido à luz do dia e que nos mostram um espaço onde a indústria dos preparados de peixe, com destaque para o garum, era de grande vitalidade. 

Para haver muito peixe teriam de ter muitos barcos e, para pescar, forçosamente haveria indústria associada, como seja a dos cabos, das redes, dos anzois, etc. etc. 

Em terra, teria também de haver as “fábricas” conserveiras de que é exemplo aquela que ainda podemos observar sob o pavimento envidraçado do edifício do turismo na Travessa Frei Gaspar, junto ao Largo da Misericórdia, idêntica a outras postas a descoberto em plena Praça de Bocage. 

As grandes olarias produtoras de ânforas da região teriam de as mandar para armazéns antes de serem enviadas para o destino final e um desses armazéns encontrava-se precisamente perto dessas cetárias, nas traseiras da nossa Biblioteca Publica Municipal, mais precisamente na travesse João Galo. 

Mas, como tudo muda com o tempo, não deixa de ser curioso que aí mesmo, onde funcionou o armazém de ânforas haveria de surgir um monumental edifício romano, provavelmente destruído por qualquer violento sismo. Dele restou uma enorme cornija que hoje se encontra na Avenida Luisa Todi, junto ao Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. 

Esta enorme pedra de calcário tem o comprimento de 3,60 metros e uma largura de 0,72 por 0,34 de espessura. 

Mas, porque onde existe indústria circula mais dinheiro, também os romanos nos deixaram uma pequena amostra do muito que por aqui abundava e, alguém escondeu sem ter tido oportunidade de recuperar uns largos milhares de moedas, colocadas em duas grandes ânforas, que vieram a ser descobertas na antiga Rua Direita de Troino. 

Setúbal é uma localidade milenar e certamente serão muitos os setubalenses e muito mais os forasteiros que nos visitam que disso não tem noção, atendendo a que a nossa rica história pouco tem sido divulgada e o que resta do nosso património edificado não tem tido a devida valorização e divulgação, pelo que urge fazê-lo. 

Rui Canas Gaspar
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2020-maio-04

sexta-feira, 1 de maio de 2020


Será bom sinal se a Proteção Civil não vier a necessitar dela 

Está praticamente concluída a nova capela de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias localizada no extremo norte do futuro Parque Urbano da Várzea, em Setúbal. 

Construída num amplo terreno, propriedade da Igreja, as novas instalações ocupam cerca de metade do mesmo tendo cedido o restante à autarquia sadina para construção de arruamentos e integração no  próprio parque verde. 

Quando estas instalações começarem a funcionar para ali serão transferidas as congregações sediadas na Avenida General Daniel de Sousa e também a da zona da Camarinha. 

A nova capela segue o padrão internacional e a exemplo das muitas milhares de outras construídas ultimamente em Portugal e no estrangeiro a sua arquitetura está adaptada não só ao culto como também a atividades sociais e a eventualmente poder ser transformada num polo de apoio à Proteção Civil em caso de emergência. 

A título de exemplo é bom saber que em várias partes do mundo, com especial destaque para o Brasil, várias capelas SUD estão já a apoiar os diferentes hospitais que se encontram sobrelotados.
Em Portugal a  Igreja já doou vário equipamento médico e de proteção para os hospitais e diversas das suas capelas estão colocadas como unidades de reserva pela Proteção Civil sendo que em Setúbal é a capela localizada na zona do Bairro da Camarinha aquela que pelas suas características ficou integrada nesta listagem para uma eventual situação de emergência devido ao COVID 19 
.
Devido à situação gravosa que o Mundo em geral atravessa as ações de culto nas capelas estão suspensas e ainda não há data assinalada para as “portas abertas” desta nova unidade que irá servir os cristão SUD setubalenses. 

Rui Canas Gaspar
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2020-maio-01

segunda-feira, 6 de abril de 2020



Figueirinha a praia construída pelos setubalenses

Muitos daqueles que se deslocam hoje à Figueirinha, a maior praia setubalense, em pleno Parque Natural da Arrábida desconhecem ou estarão esquecidos, que este espaço de eleição foi conquistado ao mar, inicialmente mais por necessidade do que a pensar no lazer. 

Em 1929 o Estado aprovou uma verba de 100 mil contos destinada às primeiras obras portuárias onde também se inseria o Porto de Setúbal cujos trabalhos teriam o seu início no dia 28 de julho de 1930 com o lançamento da primeira pedra. 

Mas a primeira pedra seria apenas o início da colocação de milhões de outras destinadas à edificação de cerca de 4 quilómetros de muralhas e de três docas na baía de Setúbal. 

As pedras seriam retiradas da falésia frente à Figueirinha que por se encontrar praticamente em cima do mar tornariam o trabalho de transporte a bordo de grande e possantes barcaças muito mais fácil e rápido. E foi o que aconteceu. 

Com a conclusão da obra e terminados os trabalhos de extração verificou-se que a falésia tinha recuado e consequentemente haveria agora mais espaço disponível na sua base do que a diminuta faixa de areal até então se verificara. 

O tempo e as marés encarregaram-se de dotar a praia com mais algum espaço, porém nada comparável ao que hoje observamos. 

Foi a construção do espigão a montante da praia e copiosas injeções de areias obtidas com as dragagens do leito do Sado que a praia tal como a conhecemos começou a tomar forma, facto a que não é alheio a natural movimentação de areia devido às correntes submarinas. 

Nos últimos anos foi construído o parque de estacionamento e o mesmo foi posteriormente melhorado e revestido com adequado pavimento, ocupando um espaço que até há poucos anos era banhado pelas águas do Atlântico e que agora se apresenta bem longe do mesmo. 

Podemos assim concluir que a Praia da Figueirinha é o resultado da engenharia, do trabalho árduo e do desenvolvimento da nossa terra, onde a mão humana se sobrepôs à da mãe Natureza. 

Rui Canas Gaspar
202-abril-06


sábado, 4 de abril de 2020



O “crime” dos namorados troineiros

Os jovens namorados Benilde com os seus 16 verdes anos e Francisco em plena juventude contando agora com os seus vigorosos 18 decidiram um dia gravar para a posteridade o seu amor. 

No início daqueles idos anos 40 do passado século XX as máquinas fotográficas constituíam um bem raro e como tal os fotógrafos profissionais eram as pessoas que se encarregavam da tarefa de gravar esses bons momentos. 

Os jovens setubalenses, nascidos e criados no popular Bairro de Troino, num belo dia vestiram as suas melhores roupas e sorrateiramente foram ao retratista para que este gravasse para a posteridade aquele momento de felicidade. 

E, foi o retratista que disse que naquele cenário do estúdio, como se estivessem à janela, que a mão do rapaz por cima do ombro da rapariga ficaria melhor. E assim foram fotografados. 

Passados uns dias Francisco estava no mar, onde era camarada num barco da pesca da sardinha quando a Benilde foi buscar os retratos que já estavam prontos. 

Encantada com a imagem a moçoila foi fazer a surpresa à mãe mostrando a bela foto. Esta olhou para a fotografia e ato contínuo levantou a mão e deu uma bofetada na filha, guardando as fotos e exclamando “não tens vergonha!”.
A mãe, não devolvendo, escondeu as fotos e a Benilde ao longo de muitos meses procurou-as por todos os cantos da casa sem as encontrar, não podendo assim mostrar ao namorado. 

Era o que mais faltava uma moça tão prendada que até aprendera a bordar e costurar na Casa dos Pescadores poder vir a ser falada por todo o Bairro de Troino, deixando ficar mal os Canas! Isto no caso do Francisco não se casar com ela, agora que até tinha um retrato com a mãozinha marota por cima da sua filha… 

O tempo passou e, em 1947, o casalinho deu o nó na Igreja da Anunciada e foi nesse dia que Benilde recebeu da mão de sua mãe o retrato captado dois anos antes, qual prova do “crime” e só nesse dia Francisco teve oportunidade de apreciar a imagem de um ternurento momento. 

Durante muitos e muitos anos, Benilde e Francisco viveram uma intensa vida a dois, passando bons e maus momentos até que um dia partiram deixando para além da saudade a bela imagem de um jovem e feliz casal setubalense.
Outros tempos, outras realidades!... 

Rui Canas Gaspar
2020-abril-04


quarta-feira, 1 de abril de 2020


Depois das placas “propriedade privada” na Comenda temos agora mais na Arrábida 

Devido à pandemia a C.M.S. interdita o acesso ao Parque Urbano de Albarquel e à Arrábida e para agravar a situação mais placas com indicação de “propriedade privada” foram colocadas em torno da desativada Bataria do Outão .

Depois de cerca de dois anos de intensas discussões que envolveram diferentes intervenientes as negociações foram dadas por concluídas no final de dezembro passado e o multimilionário chinês  Jin Chang, dono da cadeia de hotéis de luxo  Xanadu, acabou por se tornar o novo dono desta importante parcela da Arrábida.

Conforme notícias anteriormente divulgadas na imprensa já era sabido que no local iria nascer um hotel de 6 estrelas.  A confirmação chega-nos agora e Setúbal irá ficar dotada de uma unidade hoteleira de arquitetura ímpar que será inspirada nas fortificações marítimas portuguesas.

Os postos de trabalho diretos e indiretos calculados para poderem fazer funcionar esta unidade, vocacionada para o turismo de luxo, serão de três centenas de pessoas as quais  começarão a ser recrutadas a partir de janeiro.

Até ao final do corrente ano os trabalhos estarão centralizados nos espaços exteriores e infraestruturas de apoio de forma a que em 2021 avance a construção da unidade hoteleira que segundo o investidor deverá ser inaugurada na passagem do ano de 2021/2022 .

A parte menos agradável da informação é que a estrada no alto da serra (onde normalmente se realiza a Rampa da Arrábida) passará ser acessível apenas no sentido poente/nascente exceção feita para viaturas que tenham como destino a unidade hoteleira as quais poderão transitar entre o entroncamento da Rasca e a antiga bataria.

Rui Canas Gaspar
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segunda-feira, 30 de março de 2020



O polícia Sinaleiro que ficou na memória

O açoreano que se veio radicar em Setúbal e aqui criou a sua família, ficou na memória de muitos setubalenses como um homem elegante, simpático, íntegro, cujo profissionalismo impressionava os pequenos e graúdos.

Porte atlético, tronco muito direito, na sua atividade de polícia sinaleiro os movimentos eram bem vincados e precisos, por isso não é de admirar que fossem muitos os setubalenses, crianças, jovens ou adultos, que ficavam alguns minutos no passeio para admirar a forma impecável como este polícia sinaleiro dirigia o trânsito, normalmente na Avenida 22 de Dezembro.

O Sr. Jacinto era pessoa de uma delicadeza extrema e quantas vezes não mandou ele parar o trânsito para dar o braço a uma senhora idosa ajudando-a a atravessar a rua. Mas o seu profissionalismo era de tal ordem que muitas vezes mesmo sem estar de serviço e notando que havia qualquer problema na fluidez automóvel ia para o meio da via e desbloqueava a situação.

A revolução de 25 de abril de 1974 estava no auge quando as maiores manifestações de jubilo que alguma vez ocorreram em Portugal foram vividas em Setúbal.

Naquele 1º dia de Maio de 1974 uma mulher setubalense foi junto do Sr. Jacinto, que como sempre cumpria a sua atividade ao serviço do trânsito na cidade e colocou-lhe um cravo vermelho na lapela, símbolo da revolução de abril.

No dia seguinte o Sr. Jacinto apresentou-se ao serviço, dirigindo o trânsito, impecavelmente fardado e de sapato a brilhar, mas com dito cravo na lapela.

Rui Canas Gaspar
2020-março-30

sexta-feira, 20 de março de 2020


A história de uma velha imagem

O Moscatel de Setúbal foi colocado na mesa improvisada, forrada com uma tela de sinalização para aeronaves, onde fez companhia ao vinho do Porto e outras bebidas, algumas conservas e poucas iguarias que os familiares tinham feito chegar a Bijene, na Guiné, fronteira norte com o Senegal. 

Na ausência de pinheiro de Natal um ramo de mangueira, enfeitado com estrelas recortadas dos revestimentos dos maços de tabaco tentavam dar um ar natalício àquela noite onde um grupo de militares confraternizavam longe das suas famílias e de olhar atento para o escuro de onde poderia surgir um ataque dos guerrilheiros do PAIGC. 

Não por beber demais, mas pelas misturas feitas, o que comi e bebi acabou por sair e no dia seguinte estava de ressaca. Porém a fémea do mosquito anophellis já me tinha dado uma beijoca e o organismo mais fraco não resistiu ao paludismo (ou malária) que atacou em força. 

Uma semana depois, naquela zona inóspita não havia condições para tratar o doente e foi solicitado que uma avioneta militar me transportasse para o Hospital Principal em Bissau. 

A velha DO Dornier 27 do tempo da 2ª Guerra Mundial estava a fazer-se à pista de aterragem quando os guerrilheiros começaram a atacar, os camaradas pediam que eu corresse e me enfiasse no abrigo, mas mal podia com as botas e estava tão magro que era difícil acertarem neste alvo móvel. 

A avioneta não chegou a aterrar e só pouco depois retornou pousando o tempo suficiente para atirar para o solo umas sacas com correio e para eu entrar, levantando de imediato. 

Já no hospital a coisa ia de mal a pior e, quase sem forças e mais parecendo um esqueleto vaidoso perguntei ao enfermeiro se isto era para morrer ou não.  

Resposta pronta do rapaz: -Olha! estamos à espera de uma injeção que vem da metrópole. Se ela chegar a tempo safas-te, se não lerpas. 

Bem a injeção pelos vistos chegou a tempo, nem sei onde a espetaram porque era só pele e osso… 

Alguns dias depois tentei colocar um ar mais agradável e com um visual mais tipo chinês que português fotografaram-me vestido com o pijama do hospital e enviei a imagem para a minha mãe para que ela pensasse que estava numa qualquer colónia de férias. 

Hoje fui encontrar a fotografia que partilho aqui com os amigos, com a certeza de que como não “lerpei” vão continuar a ler as mais diferentes histórias contadas por quem já muito viveu e provavelmente ainda por cá ficará o tempo suficiente para contar mais e vocês para me aturar. 

Abreijos e fiquem em casa se puderem. 

Rui Canas Gaspar 

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domingo, 15 de março de 2020


Já comeu xarém? 



No início do século XX muitos pescadores oriundos do Algarve, sobretudo da região de Olhão, Fuzeta e Tavira, vieram radicar-se em Setúbal, assentando arraiais na zona do Bairro de Troino.

Com eles vieram naturalmente usos e costumes algarvios que os tinham absorvido em boa parte dos mouros que durante muitos anos ocuparam aquela região do Sul de Portugal.

O xarém (ou xerém) é um prato típico tradicional da cidade de Olhão e que em Setúbal teve muito consumo entre as famílias dos descendentes algarvios, sobretudo nos invernosos meses aquando do defeso da pesca da sardinha, período em que a fome grassava por toda esta terra de pescadores e conserveiras.

Por ser muito saboroso e barato era consumido com alguma frequência tendo até sido “exportado” para o Brasil e Cabo Verde.  

Trata-se de uma papa de farinha de milho a que se poderão juntar mais alguns condimentos, dependendo da bolsa e da criatividade do cozinheiro.

Ao olhanenses juntam-lhes conquilhas, as deliciosas ameijoas que dão ao prato um delicioso paladar que poderá também ser preparado com toucinho, presunto e chouriço.

Se nunca o degustou e tem os ingredientes necessários aproveite para cozinhar e fique a conhecer mais um pitéu que foi um dos 7 candidatos finalistas às Maravilhas da Gastronomia portuguesa.

Rui Canas Gaspar
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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020


Até quando o nosso património ficará descurado? 

Não a primeira vez e provavelmente não será a última que aqui tenho feito reparo a um assunto que me preocupa enquanto setubalense.

Apoio a 100% as obras de beneficiação bem como as obras de arte com que tem sido dotada a nossa cidade, durante tantos anos delas carenciada. 

Porém, manda a prudência que a par da verba para erigir seja o que for, se provisione alguma outra para a necessária manutenção, sob pena dos espaços virem a ficar piores do que estavam. 

É absolutamente incompreensível que um dos poucos monumentos que erigimos aos nossos pescadores esteja HÁ ANOS com um miserável aspeto, votado ao abandono onde nem sequer as simples correntes soltas HÁ ANOS sejam devidamente presas. 

Continuamos com o barco cheio, não de peixe, mas de lixo, tal como a zona que o envolve. E para compor o ramalhete até as pedras decorativas junto ao monumento estão em estado miserável. 

Mas então não há uns cêntimos e alguém disponível na Câmara Municipal ou na União de Freguesias de Setúbal para se disponibilizar para que este espaço de eleição retome algum brilho e dignidade? 

Setúbal terra de gente do Rio e do Mar merecia um pouco mais de atenção e ação em vez de se procurar “trabalhar para a fotografia” descurando o pouco que temos e que muito nos custou a adquirir. Digo eu!... 

Rui Canas Gaspar 

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2020-fevereiro-27

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020



Sou o Ronaldo e hoje vou falar-vos sobre mim

Nasci na bela cidade de Setúbal, no canil municipal, não me lembro bem do dia mas sei que foi em Outubro de 2012. 

Sou um belo exemplar, de porte atlético e pertenço à raça pitbull, abreviatura de American Pit Bull Terrier. 

Os meus antepassados vieram da terra do Tio Sam, pelo que sendo português, não deixo de ter sangue americano. 

Dizem que tenho como características o ser desajeitado, teimoso, obediente, determinado, afetuoso, leal, amigável e corajoso, o que de facto não são coisas assim tão más, como alguns tentam fazer passar. 

Era ainda pequeno, quando tinha apenas dois meses, o meu amigo e inseparável companheiro, Joaquim Pinela, veio buscar-me ao canil e levou-me para sua casa, que a partir desse dia passou a ser também a minha casa, não conhecendo outra até aos dias de hoje. 

Em 23 de setembro de 2013 levei a primeira vacina, porque o meu dono é muito cuidadoso comigo e por isso também me fez um seguro e tratou de conseguir o certificado comprovativo com a aprovação para detenção de cães perigosos e potencialmente perigosos, logo eu que sou um dos mais, senão o mais pacífico morador da minha rua, ali no Bairro Santos Nicolau. 

Marotices? Sim quem é que nunca as fez? Não sou de fazer porcaria fora do lugar, mas uma vez, tinha eu uns três anos sem que o meu dono desse por isso fiz cócó à porta de casa e para que ele não ficasse aborrecido fui buscar um sapato e coloquei por cima. É claro que não o enganei, levei o castigo adequado e nunca mais me atrevi a fazer asneiras. 

Hoje, que estou na meia-idade, sou obediente e bom amigo e, o que mais gosto de fazer é de colocar os meus adereços e ir com o meu dono passear, sendo frequente sentarmo-nos num banco de jardim na Praça de Bocage e, aqui na minha terra sou bem conhecido e até dizem que tenho mais estilo que o outro meu homónimo, embora esse tenha bolas de ouro e eu jogue com algumas menos valiosas. 

Não sou de grandes conversas, mas pensei que gostassem de saber um pouco mais sobre mim e assim possam contar mais esta história de vida, uma daquelas invulgares na História de Setúbal. 

Rui Canas Gaspar 

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019


Setúbal entra em 2020 muito mais segura 

É com natural satisfação de setubalense que partilho com os amigos  a minha constatação ao ver a nossa cidade, neste final de ano, muito mais segura e protegida de eventuais fortes chuvadas. 

Se mencionamos aqui variadas vezes os trabalhos na várzea de que é visível a bacia de retenção pronta a atuar, o mesmo não tem acontecido com outra importante obra levada a cabo em simultâneo, com a mesma finalidade, estou a referir-me ao jardim dos arcos e à ribeira do Rio da Figueira. 

Nas margens da ribeira desde a zona do Mac Donalds até ao subterrâneo na Algodeia, foram  construídos centenas de metros de  resistentes paredões em betão com cerca de dois metros e meio de altura e uma espessura na ordem dos 30 centímetros. 

Os paredões da ribeira, na zona do Parque da Algodeia formam como que uma barragem às águas que possam vir das lados da Serra de S. Luís e que já por mais do que uma vez fizeram avultados estragos na cidade. 

Com estas bacias de retenção travando o transbordo das ribeiras do Rio da Figueira e do Livramento, podemos facilmente concluir que a cidade de Setúbal entra no ano 2020 muito mais protegida dos nefastos efeitos das grandes chuvadas que de vez em quando afetavam a nossa terra. 

Rui Canas Gaspar
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2019-dezembro-30

quarta-feira, 20 de novembro de 2019


Faltam cabeças na casa das quatro 

A célebre e então degradada Casa das Quatro Cabeças, imóvel de interesse municipal desde 1977 e posteriormente declarado de Utilidade Pública,  foi adquirida pela Câmara Municipal, depois de expropriada. 

Em Dezembro de 2014 anunciava-se que o imóvel iria ser recuperado pela Autarquia Sadina, tendo por finalidade o alojamento temporário de moradores da zona cujos edifícios fossem ser recuperados. 

De então para cá as obras no edifício foram alvo de intervenção descontinuada com andamentos e paragens ao sabor dos fluxos financeiros, com datas de inauguração nunca cumpridas. 

Posteriormente foi anunciado um outro destino para o vetusto imóvel, desta vez como residência de estudantes. 

Hoje passei por lá e a recuperada construção embora ainda não tendo sido inaugurada já apresenta no seu exterior a imagem de que terá de ser intervencionada ao nível da construção civil. 

Mas, o que mais curioso achei foi o anúncio daquele espaço, escrito na linguagem de sua majestade britânica, ao invés da língua de Camões que com pompa anuncia: “Setúbal Student Residence”. 

Perguntei aos vizinhos se a casa já estava ocupada, atendendo a que não via qualquer janela aberta e, com aquele sorriso que caracteriza quem sabe da poda a resposta foi-me devolvida com um simples: “acha ?” 

Bem, depois de terem sido gastos “rios de dinheiro” e de se terem ultrapassado todos os prazos, pelos vistos casa já temos (ou não !) o que parece faltar em Setúbal são as cabeças para a ocupar, sendo pois legítimo colocar a pergunta, até quando? 

Rui Canas Gaspar
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2019-novembro-20

domingo, 17 de novembro de 2019


Valha-nos a “Santa Paciência” 

A estrada molhada, uns pingos de chuva aqui e ali, nuvens baixas criando efeito de nevoeiro nalguns troços dificultavam a visibilidade no alto da Serra da Arrábida, nesta cinzentona  tarde de Outono. 

Naturalmente os cuidados eram redobrados na condução, não fosse encontrar algum pedregulho na estrada ou animais selvagens, nomeadamente os javalis cujos rastos estavam bem visíveis nas bermas ou alguma atrevida raposa.
E foi precisamente a seguir a uma curva que um bem nutrido animal pertencente à família Canidae surgiu junto à berma daquela estrada até então deserta. 

Parei o carro e fotografei o animal que de selvagem só tem o habitat, dado que logo se me dirigiu provavelmente para receber o seu pagamento pelo trabalho de modelo. Teve azar não levou nada!... 

Em sentido contrário apareceu outra viatura que logo parou e de dentro do carro saiu uma senhora que ao ver a cena chamou a raposa que logo se dispôs a atravessar a estrada sem mais demora. Chamei a sua atenção para o facto de não dever fazer isso sob pena do animal ser atropelado. Resposta: Ela sabe o que faz!... 

O melhor estava para vir quando a dita senhora chama o animal por “Toma” acrescentando “vem cá à dona” e retirando do bolso um rebuçado tirou-lhe o papel e deu a comer (ou engolir) à raposa que não se fez rogada. Mais uma vez chamo a atenção da senhora para o que estava a fazer e ignorando tratou de dar mais outro rebuçado… 

Os animais selvagens sabem como sobreviver em meios hostis e as raposas espertas como são não fogem à regra. O que acontece é que com estas ações de alguns humanos que pensam ser pessoas com melhor coração que os demais, habituamos os animais a virem comer à mão, a atravessar estradas de qualquer maneira e a serem atropeladas por alguma viatura que venha com mais velocidade. 

Vim embora, a raposa por lá ficou a fazer parar os carros e vim pensando que para este tipo de pessoas que teimam em alimentar os animais selvagens, sem medir as consequências dos seus atos, nem a “Santa Paciência” poderá fazer grande coisa. 

Rui Canas Gaspar
2019-novembro-17
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quinta-feira, 31 de outubro de 2019


A “Rosita”

Manhã bem cedo, olho para a foz do Sado e nada mais observo para além de um denso manto de nevoeiro que teima em não mostrar a outra banda. 

Do meio do nada ouve-se o ruído de um motor e o estridente piar de numerosas gaivotas que acompanham aquele invisível barco de pesca que recolhe ao porto.

Os instrumentos de bordo ajudam aqueles heróis que com este tempo vão ao mar buscar o peixe com que nos deliciamos e que fazem dos nossos restaurantes uma referência gastronómica. 

Lembro-me de quando era rapaz ver sair a “Rosita”, a popular “vedeta” da Capitania, em dias que o mau tempo se anunciava, dirigindo-se para a zona da barra, onde ali chegada passava um cabo a cada bote a remos que por ali pescava de forma a rapidamente os rebocar para terra.

Esta embarcação que pertencia  à capitania do porto de Setúbal funcionava como uma mãe que na eminencia do perigo se apressava a ir recolher os filhos para os trazer para o lar, o seu porto de abrigo.

Hoje as embarcações de médio porte e até os botes já são movidos a motor e os novos pescadores já vão munidos de GPS, radares, sondas, telemóveis e demais equipamentos. Mas, o mar, o nevoeiro e o mau tempo continuam a não dar tréguas a estes valentes guerreiros que são os pescadores da nossa terra.

Rui Canas Gaspar
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2019-outubro-31