“Estou em Setúbal, cidade
maravilhosa!”
Às
10 da manhã deste domingo 19 de julho os fortes raios de sol já incomodavam
quem se aventurasse pelas ruas de Setúbal sem a adequada proteção.
Estacionei
o carro na Avenida General Daniel de Sousa e quando me preparava para abandonar
o parque de estacionamento reparei que dois carros à frente, entre viaturas, se
encontrava um homem aparentando ter na casa dos trinta anos, deitado no chão de
barriga para o ar, braços abertos e com uma perna dentro da viatura e outra de
fora, encontrando-se o telemóvel ao lado e a chave do carro na ignição.
Eram
muitas as viaturas que passavam por aquela movimentada artéria, sem que, pelos
vistos, ninguém se apercebesse daquela inusitada situação.
O
homem parecia estar vivo mas não se mexia, também não reagiu ao meu chamamento,
pelo que de imediato liguei para a linha de emergência 112 descrevendo a ocorrência
o mais pormenorizadamente possível.
Entretanto,
chegaram ali alguns membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias que iam frequentar as reuniões na sua capela, no outro lado da avenida, e
logo rodearam o homem de forma a fazer uma barreira natural para o proteger do
sol que incidia sobre a sua cabeça.
Alguns
minutos depois ouviam-se as sirenes de duas rápidas viaturas de emergência, uma
VMER (viatura Médica de Emergência Rápida) e uma ambulância de socorro, que ao
meu sinal pararam, inteiraram-se da situação e de imediato trataram de proceder
às necessárias manobras de socorro.
O
assunto estava entregue a quem teria competência para o resolver, nada mais
tendo que fazer ali. A minha parte estava feita.
Antes
de me retirar ainda vi o homem reagir às manobras médicas e responder a uma
pergunta da clínica questionando-o se sabia onde estava.
Com
voz arrastada, como se estivesse alcoolizado, dizia que não precisava de nada e
que sabia que estava em “Setúbal, cidade maravilhosa”.
Veio-me
logo à mente a enorme festa que decorreu ontem à noite na cidade, o “Samba na
Avenida” com o desfile de várias escolas de samba caricaturando o Rio de
Janeiro, a tal cidade maravilhosa e os festejos que para muitos acabam da pior
maneira devido aos excessos.
Os
socorristas acabaram por levar o homem para o Hospital de São Bernardo para
melhor observação e eu fui à minha vida pensando que se não tivesse aparecido
por ali e não tivesse tido a ajuda dos outros amigos que com o próprio corpo o
protegeram dos fortes raios solares, talvez este homem não tivesse agora tanta
certeza de que estaria em Setúbal a tal cidade maravilhosa.
Rui Canas Gaspar
2015-julho-19
www.troineiro.blogspot.com
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